, apesar de ser mais conhecido por suas peças de teatro, teve uma extensa produção no campo audiovisual. Ele escreveu peças para a rádio inglesa BBC e a francesa ORTF, para a televisão pública inglesa BBC e a alemã SDR e roteirizou o...
more, apesar de ser mais conhecido por suas peças de teatro, teve uma extensa produção no campo audiovisual. Ele escreveu peças para a rádio inglesa BBC e a francesa ORTF, para a televisão pública inglesa BBC e a alemã SDR e roteirizou o filme cujo título é Film. Film foi escrito em 1963 e produzido em 1964 nos Estados Unidos, com direção de Alan Schneider, diretor de teatro e amigo pessoal de Beckett. O filme é um curta-metragem em preto e branco baseado no princípio filosófico de Berkeley Esse est percipi (Ser é ser percebido) e foi encomendado por Barnett Rosset do Evergreen Theatre para ser exibido juntamente com outros dois curtas que seriam escritos por Harold Pinter e Eugéne Ionesco. Beckett foi o único a finalizar seu filme, que foi exibido tanto nos Estados Unidos quanto na Europa. Film não teve uma boa acolhida na estréia, pois foi considerado obscuro e sem propósito, mas acabou sendo reconhecido principalmente por artistas e intelectuais e ganhou vários prêmios, como o Prêmio da Crítica do Festival de Veneza de 1965, o Prêmio Especial do Júri do Festival Internacional de Curtas de Tours, na França (1966) e o Prêmio Especial do Festival de Oberhausen, na Alemanha (1966). Alan Schneider define o filme da seguinte maneira: "É um filme sobre o olho que 1 Trabalho apresentado no Núcleo de Comunicação Audiovisual, XXVI Congresso Anual em Ciência da Comunicação, Belo Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003. Este trabalho procura analisar Film a partir de seus elementos estéticos constituintes e levantar discussões em torno de sua autoria e do uso do tema da percepção, que é inerente ao cinema e ao olhar do espectador. Elementos estéticos Beckett 2 nunca tinha escrito roteiros de cinema, assim como Alan Schneider nunca tinha dirigido um filme. Em Film a questão da autoria se coloca de uma forma diferente. Em geral, principalmente na produção comercial, o autor não interfere na produção, sendo que o diretor acaba recebendo mais importância nos créditos do filme. Porém, Beckett participou ativamente das filmagens e Schneider afirma que sua intenção era fazer com que a visão criativa e estética de Beckett fosse traduzida do papel para o meio audiovisual. Para Schneider, numa época em que a Nouvelle Vague estava começando a dar seus frutos, não foi com surpresa que o autor Samuel Beckett transformou-se no diretor real de Film. Schneider (1994-5:33-5) conta que a escolha do ator protagonista e os primeiros dias de filmagem foram um pesadelo, pois eles não tinham nenhuma experiência e ainda decidiram começar a filmagem com as primeiras cenas, que eram externas e tinham vários figurantes. Os atores cotados para o papel principal eram Charles Chaplin, Zero Mostel e Jack McGowran, ator irlandês que já tinha atuado em várias peças de Beckett, porém, nenhum deles estava disponível nas datas da filmagem. Beckett então sugeriu o nome de Buster Keaton, pois o filme teria uma atmosfera cômica e irreal, que de uma certa forma remeteria ao cinema mudo. Alan Schneider contactou Buster Keaton, que após ler o roteiro não via como ele poderia durar mais do que quatro minutos e até sugeriu algumas alterações para que ficasse mais cômico. Schneider explicou-lhe que Beckett não aceitava nenhuma mudança em seus roteiros e, como Buster Keaton precisava de dinheiro, ele acabou aceitando fazer o filme sem entender do que se tratava. Conforme salienta Bignell (1999:39), a escolha de Keaton remete às comédias de vaudeville e slapstick do cinema mudo, porém, em termos de convenções cinematográficas 2 Beckett escreveu uma carta para Eisenstein em 1936 pedindo para ser admitido na Moscow State School of Cinematography mas nunca recebeu resposta. Acredita-se que foi por causa da epidemia de varíola que assolou a Rússia naquele ano e também porque o regime comunista já estava se tornando mais fechado e questionando o próprio trabalho do diretor.