Dedico este conteúdo a todas as pessoas com deficiência, na figura da Tabata Contri, que me ensinou a nunca desistir dos meus sonhos. À minha sócia Juliana Ramalho e ao sócio Dulcídio Almeida, por me ensinarem a me valorizar. A toda a...
moreDedico este conteúdo a todas as pessoas com deficiência, na figura da Tabata Contri, que me ensinou a nunca desistir dos meus sonhos. À minha sócia Juliana Ramalho e ao sócio Dulcídio Almeida, por me ensinarem a me valorizar. A toda a equipe do Grupo Talento Incluir, na figura de Katya Hemelrijk, que me representa e me faz evoluir. E a todas as famílias das pessoas com deficiência, nas figuras do Tato, meu marido, e da Clara, minha filha, por me naturalizarem e humanizarem. E agradeço à minha mãe Telma, às irmãs Camila e Renata, aos cunhados Flávio e Marcelo, à afilhada Luiza, aos sobrinhos Rodrigo, Vicente e Francisco, na figura do meu pai Chicão, que me ensinou a protagonizar minha vida. Dedico este livro a todas as pessoas com deficiência do mundo, que sabem as agruras e o prazer de ser diferente, de não se encaixar nos padrões, encarando diariamente o desafio de viver, pois a vida toda é um desafio. À minha filha Emilia, que ainda não sabe ler, mas quando souber provavelmente já terá muitos desses conceitos introjetados na prática. Ao meu sobrinho Nilo, que está se tornando um homem e que, ao ler este livro, entenderá um pouco mais o seu papel enquanto cidadão. À minha esposa Juliana, que entrou em minha vida por amor e sem perceber se tornou minha maior aliada. Aos meus pais e irmã que estiveram comigo no momento em que me tornei uma pessoa com deficiência e viveram todas as etapas dessa importante transformação anticapacitista. Aos amigos e amigas que sempre me apoiam e torcem por mim. À minha mãe de santo e irmã de fé, Claudia Alexandre, e ao meu querido irmão de fé e mentor Luís Alexandre Jr. E, finalmente, a dois amigos que fizeram a passagem recentemente, que entendiam muito a nossa causa e militavam por ela, Romeu Sassaki e Walter Alves. De mana pra mano, de mano pra mana Prefácio: Um salve da nossa galera Introdução Capítulo 1: Um pouco de história, para começar Capítulo 2: Afinal, o que é capacitismo? Capítulo 3: Desconstrua o capacitista que existe em você Capítulo 4: Saiba onde estão as pessoas com deficiência do Brasil Capítulo 5: Conheça as leis e as ações afirmativas para pessoas com deficiência Capítulo 6: Faça valer a Lei de Cotas Capítulo 7: Naturalize a pessoa com deficiência Capítulo 8: Promova a acessibilidade Capítulo 9: Humanize as relações com as pessoas com deficiência Capítulo 10: Reconheça a interseccionalidade das pessoas com deficiência Capítulo 11: Torne-se uma pessoa aliada Capítulo 12: Valorize a representatividade das pessoas com deficiências na mídia e nas redes sociais Nosso até breve Referências De mana pra mano Carolina Ignarra sobre Billy Saga Aquela máxima de que a primeira impressão é a que fica não vale para as minhas percepções sobre o Billy. Eu o conheci no teatro, que comecei a fazer menos de dois anos depois de ter adquirido a deficiência, em 2003. Sofri o acidente em 2001. O Deto Montenegro, irmão do Oswaldo Montenegro, diz que foi a partir de mim que ele teve a ideia de levar pessoas cadeirantes para o palco. A família dele foi quem me recebeu em Brasília, quando fui para o processo de reabilitação na Rede Sarah, um mês e meio depois de minha lesão. Foi a mãe do Deto, Elvira, que me apresentou lá, ela é amiga de anos da minha prima Dadá. O curioso é que conheci Elvira no dia do acidente, no casamento da prima Sônia, a irmã da Dadá. Encontrei o Deto pela primeira vez na praia, no Rio, no Carnaval de 2003. Na ocasião, ele me convidou para fazer teatro com ele. Chamei a Tabata Contri para ir comigo. Ensaiávamos das 8h às 10h de domingo, que era o único horário livre do teatro. Uma das primeiras pessoas que chamamos para compor o elenco de "Noturno Cadeirante", à época, foi a Julie, que tinha 16 anos e era street dancer. E ela chamou o Billy. Ele foi no terceiro ou quarto dia de ensaio. E eu não fui com a cara dele. Todo marrento, emburrado, revoltado. Aí já fiquei meio que "hummm, chegou o marrento aí". Mas ele foi ficando, o Deto gostou dele. Naquele tempo, o Billy assumiu a cara de mau. Embora artisticamente excelente, ele era um bad boy e parecia estar sempre na defensiva. Eu acredito que, não só com ele, mas também com outros integrantes daquele grupo, houve uma conquista de relação. A partir dali, continuamos nos encontrando, nos falando, com esses laços cada vez mais fortalecidos. Naquele momento, vivíamos uma juventude, na maior parte de nós, interrompida por um acidente, requerendo períodos de reabilitação. Em geral, muitos ali estavam em uma fase de amadurecimento diferente da minha. Eu voltei a trabalhar muito rápido, porque tinha o sonho da maternidade, queria "adultar" logo para conquistar meus propósitos. E tive as oportunidades também, em uma condição privilegiada. Eu não fui tão conectada com eles como a Tabata foi naqueles primórdios. Eles saíam no sábado à noite e iam direto para o ensaio no domingo. A turma se conectou na convivência daquela amizade mais do que eu. Eu estava sempre meio de fora, acho que era muito chata também. Eu tenho um feedback desses meus amigos do teatro de ser uma antes e outra depois da maternidade, e da minha pós-graduação em Dinâmicas de Grupo. Nesse curso, vivenciei muitos trabalhos experimentais. Acho que antes eu era muito exigente, muito certinha, até puritana. Eu não tinha boa fama. E também os achava chatos, gostava de ir lá para fazer teatro, fazer arte. Minha convivência era mais com a Tabata. Depois que voltei a participar do grupo, quando minha filha, a Clarinha, já tinha três ou quatro anos, eu comecei a entender a importância deles naquele momento anterior da minha vida. Foi com o Billy que eu aprendi que podia montar a cadeira e desmontá-la sozinha para entrar no carro. Lembro bem dele fazendo isso, ensinando-me como fazer. Naquela hora até me veio uma "negaçãozinha", de pensar que no meu carro não daria, por ele ser muito alto, e que o Billy fazia aquilo por não ter humildade para pedir ajuda. Depois fui ressignificando isso e até hoje monto e desmonto a cadeira quando preciso. E fui inspirada ali, porque achava que não ia conseguir. Outra coisa que me fazia não gostar do Billy é que ele era muito mulherengo. Eu sentia que era por autoafirmação, mas não sabia dar nome a esse comportamento. Depois do curso de dinâmicas de grupo, eu passei a ser compreensiva, porque aprendi mais, por meio de conceitos da psicologia, como é conviver em grupo. Foi bem transformador para mim. Quando voltei, passei a ressignificar: "Billy é bad boy, mas por qual motivo?" Comecei a analisar com mais compaixão, com mais empatia. O mais positivo no Billy, que me faz querer ficar do lado dele, ser amiga dele, acompanhar as vitórias dele, é o quanto ele evolui. É um cara que não estacionou, está sempre querendo se autoconhecer, está sempre aberto para pontuarmos coisas importantes. É questionador, mas também está disposto a ouvir, a ensinar, a trazer reflexões importantes. Ele pede conselhos, demonstra afeto. Foi ele que se aproximou de mim, começou a me chamar de "mana". Ele fala que ama, reconhece em vida a diferença que a gente faz para ele. Acho que a paternidade o ajudou nesse sentido. Ele também fez umas evoluções espirituais, entrou para Umbanda. Escrever um livro sobre capacitismo já era algo que eu queria fazer e vinha postergando. Assim, achei ótimo quando o Billy veio com a ideia deste projeto. E também acreditei que seria uma oportunidade de nos aproximarmos mais. Eu acho importante escrever com alguém, sempre gosto de fazer esse tipo de projeto com outras pessoas. No começo não foi fácil nossa relação, tínhamos uns atritos inconscientes, também porque somos muito diferentes. O que eu sinto hoje pelo Billy foi fruto de uma transformação. Acho que começamos a nos valorizar quando percebemos o valor das diferenças de todos e todas. Trabalhar com diversidade faz a gente se desenvolver todos os dias. O Billy e a família dele são pessoas que valem a pena para mim. Gosto de ter ao meu lado pessoas que saíram fortes de histórias difíceis. Quando vivo uma relação, quero vivê-la de verdade. O Billy é um caso de inclusão em minha lista de amizades. Ele foi me conquistando e hoje é uma referência para mim. Uma conexão predestinada. É amigo do peito, é irmão que a gente escolhe. É "o mano". Billy Saga sobre Carolina Ignarra Em 2002, eu fui chamado por uma amiga que dança break para cantar rap em um grupo inclusivo de street dance. Lá, conheci uma menina cadeirante chamada Julie. Foi ela que me levou aos ensaios do primeiro elenco de pessoas cadeirantes para a montagem do "Noturno Cadeirante", dirigido pelo Deto Montenegro. Acredito que nada seja por acaso. Na primeira reunião com o grupo, conheci a Tabata e a Carol. Um fator decisivo para que eu ficasse no projeto foi o primeiro discurso do "Detão", dizendo que ele não estava ali para fazer panfletagem, para abraçar a causa e, sim, para fazer arte. "Quer tirar arte dessa cadeira, vem comigo", ele ressaltou. Passei então a ir todo fim de semana para os ensaios, sete da manhã a gente estava lá. Comecei a criar uma grande afinidade com a galera, um pessoal firmeza que vivia os mesmos venenos, as mesmas coisas que eu. Depois dos ensaios, ficávamos tomando café em uma galeria na avenida Domingos de Moraes, na Vila Mariana (zona sul de São Paulo) e conversando sobre situações em que enfrentávamos a falta de acessibilidade. A gente dizia que precisava fazer alguma coisa a respeito. Conhecemos então a Luka, locutora da rádio 89 FM, que adorou a ideia de criar um movimento. Daí surgiu o SuperAção, que gerou uma primeira passeata em 2003. Naquela época, eu achava a Carol ranzinza para caramba. Malhumorada, teimosa, brigava com todo mundo, mas mudou depois que fez uma pós-graduação em Dinâmicas de Grupo. Dali para a frente, até hoje, ela segue em uma evolução constante. É uma pessoa que não para de evoluir, intelectual, emocional e psicologicamente. Eu tenho um orgulho enorme de ser amigo dela, me emociona como a vida traz pessoas incríveis para a nossa convivência. Não existe casualidade....