FILOSOFIA DA LINGUAGEM

A partir da década de 1990, documentos de caráter oficial
surgiram seguindo uma tendência neoliberal e sendo voltados
à implantação de novas perspectivas para as práticas
pedagógicas, as quais não necessariamente consideraram as
realidades e possibilidades das nossas escolas. Nessa mesma
perspectiva, foi homologada em 2018, em meio a um
conturbado contexto político-ideológico, a Base Nacional
Comum Curricular (BNCC), que se pauta em uma
uniformização do ensino na educação básica. Nesse viés, uma
das problematizações acerca do documento diz respeito à
forma como a BNCC busca articular a esfera tecnológica ao
ensino, mais especificamente com relação ao estudo de
Língua Portuguesa. Seguindo esse mote, a partir de uma
pesquisa qualitativa, o presente trabalho se propõe a refletir e
problematizar a maneira como os gêneros digitais são
contemplados na BNCC, focalizando o ensino fundamental –
anos finais, bem como elucidar possíveis consequências, para
o ensino de língua materna, que a abordagem desses gêneros
implica no contexto escolar. Para tanto, partimos das
concepções teóricas de Marcuschi (2003, 2004, 2008) acerca
dos gêneros textuais e dos gêneros digitais. Quanto ao aporte
que fundamenta nossas análises, destacamos as contribuições
de Apple (2011), Fabiano (2016), Geraldi (2016), Guimarães
(2022) e Orlandi (1987a; 1987b; 1987c; 2020). Por fim,
criticamos a incorporação excessiva de gêneros digitais no
documento, a presença da homogeneidade no ensino, e
apontamos uma ênfase na produtividade e na escrita como
produto e não como processo, em que o sujeito é levado a
aprender modelos estruturais e reproduzi-los.

Como contribuição final, Gabriel Rodrigues da Silva resenha "10 lições sobre Hegel", de Marloren Lopes Miranda, publicado pela Editora Vozes em 2024. Da Silva apresenta inicialmente a autora, destacando sua atuação acadêmica, antes de detalhar a estrutura da obra, suas lições e ideias centrais. O resenhista sublinha o êxito do empreendimento de Miranda ao reconhecer sua capacidade de introduzir as principais teses da filosofia hegeliana de maneira acessível e rigorosa, de modo a proporcionar aos leitores os instrumentos conceituais necessários para a compreensão da complexa linguagem hegeliana. Da Silva conclui enfatizando a importância do livro para os estudos hegelianos brasileiros, especialmente por preencher uma lacuna bibliográfica significativa.

O mundo inteiro é forçado a passar pelo crivo da indústria cultural. A velha experiência do espectador cinematográfico, para quem a rua lá de fora parece a continuação do espetáculo que acabou de ver — pois este quer precisamente reproduzir de modo exato o mundo percebido cotidianamente — tornou-se o critério da produção. Quanto mais densa e integral a duplicação dos objetos empíricos por parte de suas técnicas, tanto mais fácil fazer crer que o mundo de fora é o simples prolongamento daquele que se acaba de ver no cinema.

A proposta deste artigo tem como objetivo discutir, teoricamente, sobre algumas das principais concepções que atravessam a constituição do que hoje conhecemos como Círculo de Bakhtin e que sustentaram a pesquisa de Mestrado do primeiro autor deste artigo. Tais concepções que refletimos são: linguagem, enunciado concreto, gêneros do discurso e a própria noção de Círculo de Bakhtin. Para isso, buscamos fundamentação teórico-metodológica nos principais textos dos integrantes do Círculo, com ênfase em Bakhtin, que problematizam as concepções supracitadas.

Este trabalho pretende revisitar a obra Fim de Partida, de Samuel Beckett, analisando-a da perspectiva do corpo representado no texto de Beckett. Tratando-se de uma obra canônica, não será obviamente uma interpretação original ou uma nova luz sobre a obra, mas, simplesmente, um novo ponto de vista.

Dessa maneira, algumas das diversas análises do texto e do autor estarão incluídas neste trabalho como forma de introduzir e de repensar Fim de Partida do ponto de vista supracitado. Este trabalho tentará também costurá-las só que não com o objetivo de criar uma unidade central da obra (o que seria até inviável, considerando a quantidade de leituras), ao contrário, posicionando-se sobre o que é dito e mostrado no texto sobre os corpos dos personagens e a partir daí chegando a alguma conclusão, se de fato alguma for alcançada.

Indifference in foco: a pedagogical look Resumo Este artigo aborda a tematica da indiferenca em alguns de seus aspectos, como uma manifestacao humana que permite e ate fomenta situacoes bem conhecidas entre nos, tais como o individualismo, a autossuficiencia, a arrogância, o isolamento, a xenofobia, os preconceitos de toda ordem etc. A abordagem proposta tem um carater filosofico e pedagogico. Pretende suscitar questionamentos e reflexoes de ordem existencial e ao mesmo tempo servir como indicativo para pistas de acao, suscitadas a partir do reconhecimento de lacunas abertas ou incompletas subjacentes a acao do individuo em seu contexto. E uma reflexao que se apresenta sobretudo no universo ontologico, abordando a questao da indiferenca do homem com o proprio ser homem e suas consequencias mais significativas. Palavras-chave : Indiferenca, Inquietacao, mudanca. Abstract This article addresses the issue of indifference in some of its aspects, as a human manifestation that allows and ...

This article presents the initial results of research, which aims to assess how well Scientific Literacy (LC) is known and worked on in higher education. The investigation took place through the application of an online questionnaire aimed at undergraduate students of Language Arts from public and private Brazilian institutions. The results revealed that even though the LC is a subject little addressed during the initial years and still unknown by some students of the course, it deserves greater prominence in the critical training of these future teachers. Therefore, it is relevant to look for solutions to the courses of graduation in Language Arts to develop competent teachers in LC as well.

Este artigo apresenta os resultados teóricos e analítico-descritivos de um estudo desenvolvido, ao longo de quatro anos, por discentes de Iniciação Científica. Tomando como pressuposto a ideia de que a referenciação é uma atividade discursiva (Mondada; Dubois, 2003), o objetivo é analisar a construção de sentidos num texto dissertativo-argumentativo  produzido  por  um  vestibulando  em  preparação  para  o  Exame  Nacional  do  Ensino  Médio,  com  vistas  a  contribuir  para  a  articulação  entre  práticas  de  produção  textual  e  práticas  de  ensino  calcadas  em  textos.  Esse  tipo  textual, em sala de aula, pode não só incentivar o aluno a ampliar a sua competência textual-discursiva,  mas,  também,  a  construir  conhecimentos  por  meio  de  ações sociocognitivo-interacionais.  Os  pressupostos  teórico-analíticos  que  embasam  esta discussão são da Linguística de Texto contemporânea (Koch, 2000, 2018; Cavalcante et al., 2010; Capistrano Júnior; Lins; Elias, 2017), de base sociocognitivo-discursiva e interacional, na interface com a argumentação (Koch; Elias, 2017; Cavalcante et al., 2020). Os resultados apontam que o vestibulando constrói, no nível microestrutural da redação,  relações  de  sentido  que  articulam  defesa  de  ponto  de  vista,  progressão  referencial  e  intertextualidade.  No  entanto,  seu  texto também  apresenta  ruptura  informacional a partir de desfocagem referencial, prejudicando, em parte, a estrutura composicional do tipo dissertativo-argumentativo. Assim sendo, o artigo conclui que, para  contemplar  um  projeto  de  dizer  contextualizado  e  eficaz,  é  necessário  que  o locutor  saiba  articular  seus  propósitos  comunicativo  e  interacional  à  estrutura  composicional esperada.

Este trabalho analisa e compara os abusos da linguagem nas obras Ensaio sobre o conhecimento humano, de John Locke (1632-1704) e Leviatã, de Thomas Hobbes (1588-1679). Para ambos os autores, a linguagem desempenha um papel central na constituição do conhecimento e das relações políticas entre os homens. Para Locke, as palavras são sinais das ideias presentes no espírito, a partir das quais comunicamos nossos desejos. Para Hobbes, por sua vez, a linguagem é a transformação dos pensamentos em discurso verbal, tornando-se conhecido o que pensamos ou imaginamos. A partir dessas perspectivas de linguagem, ambos os filósofos identificam os abusos no uso da linguagem e propõem formas de evitá-los, buscando um melhor uso da linguagem.

A tese fundamental que está presente nesta comunicação é que os conceitos de pessoa e de ser humano não são necessariamente equivalentes. Ser-se humano pode ser razão suficiente para se ser pessoa, pelo menos como postulado ético, mas não é de forma alguma condição necessária. Como veremos, a cultura e a filosofia clássicas da Índia antiga nunca tiveram dúvidas sobre esta questão.
Nota importante: a primeira página tem duas gralhas: 1. Onde está "“Esta pessoa, esta rapariga não é um ser humano.” deve estar “Esta pessoa, esta rapariga não é um ser humano moderno.”; 2. Onde está: “A análise do seu Mas estranhamente” deve estar “Estranhamente tinha"

Esse artigo sumariza os principais momentos de uma longa pesquisa sobre teorias da referência, que começou por volta de 2007. O resultado é uma teoria cognitivista da referência baseada em regras criteriais implícitas. Ela pode ser descrita como uma forma mais refinada de teoria do feixe de descrições, embora suficientemente poderosa para responder a quaisquer objeções externalistas, o que a torna capaz de superar o velho impasse entre descritivismo e referencialismo.
Meu texto mais completo desenvolvendo a teoria é "How do Proper Names Really Work?" (De Gruyter 2023)

CC BY-NC 4.0 Esta pesquisa apresenta uma análise da perícope de 2 Tessalonicenses 2 sob a perspectiva do fenômeno linguístico da dêixis. E, ao fazê-lo, tomar-se-á como contributo teórico a teoria da enunciação, a fim de evidenciar, um pequeno corpo de palavras que ligam o codificador à situação de enunciação. Reconhece-se a assimetria do ato de enunciação e, portanto, a necessidade do intérprete reconstruir seu sentido a partir de indicações presentes no enunciado. No caso do texto epistolar a presença do dispositivo dêitico é essencial, visto que a situação de comunicação carece de ancoragem. Assim, o que se objetiva com esse trabalho é identificar as coordenadas enunciativas do autor (enunciador). Palavras-chave: Dêixis. Tessalonicenses. Enunciação.

Neste artigo, tento mostrar como, ao articular as dialéticas de Hegel, Nāgārjuna e Nishida, seria possível chegar a uma forma frutífera de conceber a filosofia intercultural por meio de um método dialético. Para articular as dialéticas desses diferentes filósofos em um método de fazer filosofia interculturalmente, também trarei para a discussão o filósofo Ram Adhar Mall e sua concepção de não-situacionalidade situada (orthafte Ortlösigkeit). Acredito que o conceito de Mall não apenas fornece uma base para articular as dialéticas distintas de Hegel, Nāgārjuna e Nishida em um método para fazer filosofia intercultural, mas também o próprio conceito de Mall pode ser melhor compreendido dialeticamente e para além da ideia de "filosofia perene". Espero mostrar que fazer filosofia intercultural significa, de acordo com esse método, procurar por comunalidades (nãoessenciais) entre diferentes tradições, não apenas para entender cada uma delas em suas diferenças e especificidades, mas também para, por meio dessas diferenças, adquirir uma nova compreensão de suas comunalidades partilhadas.

PALAVRAS-CHAVE Dialética, Filosofia Intercultural, Dialética da autorrelação, dialética da relação ao outro, orthafte Ortlösigkeit.

This article highlights the intrinsic importance of culture to a people,
emphasizing that it is not merely an accessory to human existence but an essential aspect
that must be protected and respected. Culture, along with human dignity, encompasses
beliefs, values, expressions, and customs that deserve recognition and safeguarding
Although human rights, including the right to culture, were established by the member
states of the United Nations, these rights do not necessarily reflect the consent of all
global peoples and are considered universal, even though they, in fact, are not. In this
context, it is crucial to respect diverse cultural manifestations, even if they differ from
Western culture, especially when these manifestations occur in their own cultural context,
as in the case of the “sassywood” practice in Liberia.”Sassywood,” a traditional probative
ritual in Liberia, is prohibited by local laws on the grounds that it can cause harm to life
and health. However, this prohibition is seen as an expression of Western colonialism,
attempting to Westernize local customs. Paradoxically, the state that prohibits “sassywood”
also fails to provide an accessible and efficient judicial system for its population, thus
violating the human right to access to justice.The article concludes that, due to the lack of
access to and distrust in the Liberian judicial system, the practice of “sassywood” remains
socially accepted and widely accessible, and should be respected both nationally and
internationally. Just as it is unacceptable to violate fundamental human rights such as the
right to life, the presumption of innocence, and humane treatment, it is also unacceptable
to violate the rights to cultural diversity and access to justice. The objective of this work is
not to promote the practice of “sassywood” globally, but rather to emphasize the need for
respect and assurance of human rights, among which are the cultural diversity of a people
and access to justice.

O conceito de Identidade pode ser colocado, de forma comum, como aquilo que define o que algo é e que não pode ser de outra forma nem substituído por outro algo que não ele mesmo. Se a identidade muda, muda aquilo que era o ser. Aristóteles (384-322 a.C) definiu de maneira mais formal dizendo que “a identidade é uma unidade no ser, de duas ou mais coisas, ou de uma coisa tratada como mais de uma”. Neste sentido a identidade não é algo estabelecido por convenção ou que pode ser alterado ou substituído em sua essência. Identidade é necessidade.
Este conceito será tratado aqui na ordem do conhecimento, mais especificamente em como podemos estabelecer uma relação entre entidades (e seus atributos) e identidades para formarmos conceitos que nos levarão à construção de nosso saber e à formação de nossa inteligência conceitual. Para tanto vamos apresentar a tese da filósofa russa naturalizada norte-americana Ayn Rand e sua teoria epistemológica objetivista. Para ela, a consequência desta relação entre entidade e identidade é o conceito de causalidade que é a forma como se apresenta a ação das entidades que agem de acordo com suas identidades.

Herbert Hart notabilizou-se por construir uma sofisticada teoria jurídica, de matriz positivista, opondo-se à concepção de Direito de John Austin. O catedrático de Oxford destacou-se ao propor a inserção de regras secundárias no “primitivo” modelo jurídico austiniano e, também, por alinhar-se à filosofia da linguagem ordinária. Entretanto, a perspectiva hartiana foi severamente criticada pelo jusfilósofo estadunidense Ronald Dworkin, o que ensejou um dos debates mais importantes do século XX. Tendo em vista os relevantes contributos de Dworkin e Hart para o aperfeiçoamento dos estudos no campo da teoria do Direito, pretende-se, aqui, responder à seguinte pergunta: as críticas dworkinianas à teoria do Direito hartiana são robustas a ponto de descredibiliza-la? Para responder a esta indagação, o artigo se propõe a: a) analisar o sistema jurídico conforme definido por Hart, com ênfase na compreensão da regra de reconhecimento enquanto validadora última do ordenamento; b) entender como Hart trata o Direito em sua dimensão linguística e, por conseguinte, o expediente da discricionariedade judicial; c) traçar um breve panorama do debate travado entre Hart e Dworkin, enfocando-se a concepção de ambos a respeito do manejo do poder discricionário judicial. A abordagem metodológica tem um viés comparativo e crítico-hermenêutico, instrumentalizado pela técnica de revisão bibliográfica. Conclui-se que a teoria hartiana mantém-se sólida, nada obstante as críticas formuladas por seus antagonistas.

Os autores que Paulo Leminski escolheu traduzir foram em geral revolucionários em suas épocas e serviram como referências para o futuro. O poeta curitibano não se limitou a uma acomodação passiva diante das traduções que produziu, ao contrário, a prática tradutória foi decisiva na construção de sua poiesis singular. O poeta fez com que seu trabalho tradutório alcançasse status de criação, ao produzir novos originais afinados, sobretudo com sua poética, como neste caso que abordaremos. Trataremos da expressividade que Leminski imprimiu nas traduções de poemas do poeta beat norte-americano Lawrence Ferlinghetti, identificando seus momentos de assimilação de uma poesia, que, segundo Leminski, está mais conectada ao poema falado, como uma espécie de recital. Essas questões serão discutidas diante da análise do poema "A Loja dos Caramelos Além do El", em busca de aprofundar a reflexão sobre a singular forma de vida antagônica do novo poema traduzido.

O curso oferece uma análise do tema da intencionalidade em seu desenvolvimento histórico e sistemático, desde Aristóteles e a filosofia antiga e medieval, até sua retomada e transformação em Brentano. O objetivo principal da disciplina é o conhecimento deste tema fundamental que atravessa a história da filosofia europeia, estudando os principais teóricos da intencionalidade da mente, tanto do ponto de vista da sua ontologia como da sua epistemologia. O seminário se empenhará em reconstruir o debate a partir da teoria das relações em Aristóteles, que trata de forma evasiva a relação mental como uma relação real, passando pelos seus diferentes intérpretes medievais, até Franz Brentano e a retomada deste conceito que fundamenta a fenomenologia contemporânea e ainda está no centro do debate sobre a natureza da mente

Resumo: O presente trabalho tem o objetivo de estabelecer uma possível relação entre dois conceitos importantes da filosofia madura de Ludwig Wittgenstein, formulados em contextos distintos das reflexões do autor, a saber, o de visão de mundo (Weltanschauung) e o de imagem de mundo (Weltbild). O primeiro conceito-visão de mundo-aparece no parágrafo 122 de Investigações Filosóficas, no contexto de apresentação da noção de visão panorâmica que, por sua vez, constitui o cerne do seu método filosófico. Se a filosofia, tal como concebida pelo autor, é uma atividade que tem por objetivo dissolver problemas filosóficos advindos de uma má compreensão do modo como opera a linguagem, então, ela deve possibilitar a mais ampla compreensão possível dos limites de constituição de sentido e das condições de possibilidade de significação. Para tanto, seu trabalho deve ser o de trazer à luz as mais variadas conexões existentes entre os conceitos, e a própria ideia de apresentação panorâmica de tais interconexões é reconhecida pelo filósofo como sendo uma atitude que, antes de mais nada, poderia caracterizar uma Weltanschauung, isto é, o modo como vemos as coisas. Já o segundo conceito-imagem de mundo-surge no horizonte de discussões da obra Sobre a Certeza e denota o sistema de nossas convicções fundamentais (as certezas de que não se cabe duvidar) que, em síntese, constitui o próprio pano de fundo de constituição de sentido de nossas práticas no mundo, inclusive de nossas visões de mundo. Assim, a tarefa que aqui se impõe de se explorar o significado de cada conceito para, então, aprofundar a relação existente entre ambos pode auxiliar a compreender, em perspectiva wittgensteiniana, a nossa própria relação com a realidade e o modo como interpretamos nossas próprias experiências de mundo.

to mítico, que para ambos o conteúdo da "coisa" e o do "sig no" não se diferenciam nitidamente, e, em vez disso, costu m am mesclar-se indistintamente. O nome de uma coisa e a própria coisa fundem-se de m aneira indissolúvel; a sim ples palavra ou imagem encerra uma força mágica através da qual se nos revela a essência da coisa. E basta transferir esta concepção do real para o ideal, do material para o funcional, para nela descobrir, de fato, um cerne de legitimidade. Por que no desenvolvimento imánente do espírito, a aquisição do signo realmente sempre representa o primeiro e necessário passo para o conhecimento objetivo da essência das coisas. Para a consciência, o signo constitui, por assim dizer, a pri meira etapa e a primeira prova da objetividade, porque ele interrompe a constante modificação dos conteúdos da cons ciência, e porque nele se define e enfatiza algo permanente. Nenhum conteúdo da consciência, uma vez pertencente ao passado e substituído por outros, se repete, como tal, de for ma rigorosamente idêntica. Uma vez desaparecido da cons ciência, ele deixa definitivamente de ser o que era. Mas a esta constante modificação das qualidades de conteúdo a cons ciência opõe a unidade de si mesma e de sua forma. A sua identidade não se evidencia pelo que ela é ou possui, mas pelo que ela faz. Através do signo ligado ao conteúdo, este adquire em si mesmo uma nova consistência e uma nova du ração. Isto porque, em contraposição às alternâncias reais dos conteúdos particulares da consciência, o signo possui uma significação ideal que, como tal, persiste. Ele não é, como a simples sensação dada, algo particular e único, representan do, ao invés, uma totalidade, um conjunto de conteúdos pos síveis, e é em face de cada um deles que ele representa, por tanto, um a primeira "universalidade". N a função simbólica da consciência, tal como ela se manifesta na linguagem, na arte e no mito, determinadas formas fundamentais invariá veis, de natureza em parte conceituai, em parte puramente 6. V ide Humboldt, Einleitung zum Kaw i-W erk (Introdução à obra de Kawi), S.-W. (Akademie-Ausg.) (Edição da Academia), VII, 55 ss.

O trabalho de Henry E. Allison se insere no que podemos chamar de kantismo analítico, uma recuperação de elementos centrais do pensamento kantiano num contexto filosófico analítico que se iniciou em 1966 com a obra de Strawson, The Bounds of Sense. No cerne da investigação filosófica de Allison no livro Kant´s Transcendental Idealism está a intenção de reabilitar o idealismo sob uma forma aceitável para a filosofia analítica contemporânea. Para entender melhor o alcance e a importância desse projeto, neste artigo proponho uma recapitulação da relação, muitas vezes complexa e problemática, da tradição analítica com a filosofia teórica de Kant.

Este artigo explora as tensões entre Walter Benjamin, Immanuel Kant e os neokantianos, argumentando que Benjamin não rejeita simplesmente o kantismo, mas o reinterpreta dialeticamente. Enquanto critica a redução neokantiana da experiência ao paradigma científico-matemático, ele resgata o núcleo crítico do projeto kantiano: a busca por uma fundamentação rigorosa do conhecimento. Textos como Sobre o programa da filosofia por vir e Origem do drama barroco alemão revelam um Aufhebung singular, em que Benjamin rompe com a tradição, mas preserva seu potencial epistemológico, redirecionando-o para uma filosofia da história, da linguagem e da redenção. Assim, sua "filosofia por vir" não nega Kant, mas o transfigura, integrando fragmentos, alegorias e o messianismo em uma teoria do conhecimento aberta ao inacabado.

Resumo: O presente artigo propõe um diálogo com a obra de Shierry Weber Nicholsen, a partir de seu texto O sujeito mutilado na arena da experiência estética (2010), articulando suas reflexões às contribuições teóricas de Theodor Adorno. A proposta é tomar essas vozes filosóficas como guias para pensar a crônica-conto "Mineirinho", de Clarice Lispector, como exemplo de uma escrita que produz o estremecimento das fundações o Erschütterung. Três pontos de corte organizam a reflexão: (1) o processo ativo da experiência estética, em que sujeito e obra interagem mutuamente e se transformam; (2) a arena da experiência estética como espaço de combate; e (3) a violência desse encontro, marcada por um choque. Em Mineirinho, a violência estética não se limita ao conteúdo narrado. Ao negar o Immergleiche, o "sempre o mesmo", essa violência não apenas revela as fraturas do sujeito e suas mutilações, mas também cria a possibilidade de uma experiência que, ao rejeitar as formas alienadas de percepção, inaugura, na arena da experiência estética, um encontro autêntico entre sujeito e arte.

Resumo: Em Filosofia Analítica, há uma "doutrina recebida" sobre forma lógica e gramática que diz que é um exemplo paradigmático do caráter enganador da linguagem que, guiada pela gramática, a lógica tradicional confundiu sujeito gramatical e sujeito lógico e interpretado frases quantificacionais como expressões denotativas. A doutrina foi exposta e criticada por Alex Oliver em A few more remarks on logical form (1999). Neste artigo vou além da crítica de Oliver, buscando um melhor entendimento da relação entre lógica/filosofia e linguagem. De início, apresento a doutrina recebida, salientado suas conexões com a teoria das descrições definidas de Russell. A seguir, mostro como ela se baseia em uma versão da lógica tradicional que não se encontra em lugar algum na tradição. Então, argumento que, ainda que de forma diferente do que supõe a doutrina recebida, as distinções lógica e gramatical de sujeitopredicado de fato se confundiam na tradição lógica. Por fim, retornando à ideia do caráter enganoso da linguagem, apresento um entendimento alternativo que se encontra em Frege, e que se mostra muito mais profundo e sofisticado do que aquele originado em Russell.

Apesar da autodesignação como “inclassificável” artisticamente, esta pesquisa analisa, na poética experimental de Arnaldo Antunes (AA), a verbivocovisualidade como traço estilístico arquitetônico, inspirado pelo grupo Noigandres. O projeto se fundamenta na filosofia da linguagem bakhtiniana, especialmente nos conceitos de signo ideológico, voz social, estética e ética, vida e arte, autoria, gêneros do discurso, linguagem e enunciado, uma vez que assume, calcado no Círculo de Bakhtin, a tridimensionalidade da linguagem em sua integralidade potencial e concreta. Reflete-se como a palavra-coisa é trabalhada por AA, a partir da verbivocovisualidade, entendida como proposta integral filosófica de linguagem do Círculo de Bakhtin. Além disso, busca-se analisar a arquitetônica poética de AA, para demonstrar a metalinguagem como um elemento que define, em ato, o trabalho com a palavra-coisa. Também são desenvolvidos aspectos metodológicos de análises verbivocovisuais e, enfim, são estabelecidos diálogos entre a abordagem brasileira do escopo bakhtiniano com os estudos culturais ingleses, voltados para a linguagem poética. Os 11 poemas que compõem o corpus delimitado da pesquisa foram coletados de acordo com critérios temático-figurativos e temporal, em interação com outros enunciados, selecionados no movimento de pesquisa, calcados na metodologia dialético-dialógica de cotejamento. A pertinência e a relevância da proposta se encontram na reflexão sobre o traço estilístico de Antunes, não só em ato composicional como autor-criador, mas também por AA ser um ícone de um movimento poético que vivencia, de modo intensificado, a verbivocovisualidade da linguagem, em relação com outros movimentos sócio-político-culturais do século XX, em pleno desenvolvimento no século XXI; e pela poética arnaldiana refletir e refratar, com seu trabalho metalinguístico, mais que uma concepção de arte e de linguagem, uma noção de mundo e de humano. Ao se voltar para a concepção de verbivocovisualidade como noção de linguagem em ato por meio da poética de AA, esta proposta tem, como resultado, uma contribuição com o estudo da linguagem no campo bakhtiniano e nas esferas da arte, das mídias e da educação, uma vez que linguagem, ciência e arte constituem a vida e o ser.

Apesar da autodesignação como “inclassificável” artisticamente, esta pesquisa analisa, na poética experimental de Arnaldo Antunes (AA), a verbivocovisualidade como traço estilístico arquitetônico, inspirado pelo grupo Noigandres. O projeto se fundamenta na filosofia da linguagem bakhtiniana, especialmente nos conceitos de signo ideológico, voz social, estética e ética, vida e arte, autoria, gêneros do discurso, linguagem e enunciado, uma vez que assume, calcado no Círculo de Bakhtin, a tridimensionalidade da linguagem em sua integralidade potencial e concreta. Reflete-se como a palavra-coisa é trabalhada por AA, a partir da verbivocovisualidade, entendida como proposta integral filosófica de linguagem do Círculo de Bakhtin. Além disso, busca-se analisar a arquitetônica poética de AA, para demonstrar a metalinguagem como um elemento que define, em ato, o trabalho com a palavra-coisa. Também são desenvolvidos aspectos metodológicos de análises verbivocovisuais e, enfim, são estabelecidos diálogos entre a abordagem brasileira do escopo bakhtiniano com os estudos culturais ingleses, voltados para a linguagem poética. Os 11 poemas que compõem o corpus delimitado da pesquisa foram coletados de acordo com critérios temático-figurativos e temporal, em interação com outros enunciados, selecionados no movimento de pesquisa, calcados na metodologia dialético-dialógica de cotejamento. A pertinência e a relevância da proposta se encontram na reflexão sobre o traço estilístico de Antunes, não só em ato composicional como autor-criador, mas também por AA ser um ícone de um movimento poético que vivencia, de modo intensificado, a verbivocovisualidade da linguagem, em relação com outros movimentos sócio-político-culturais do século XX, em pleno desenvolvimento no século XXI; e pela poética arnaldiana refletir e refratar, com seu trabalho metalinguístico, mais que uma concepção de arte e de linguagem, uma noção de mundo e de humano. Ao se voltar para a concepção de verbivocovisualidade como noção de linguagem em ato por meio da poética de AA, esta proposta tem, como resultado, uma contribuição com o estudo da linguagem no campo bakhtiniano e nas esferas da arte, das mídias e da educação, uma vez que linguagem, ciência e arte constituem a vida e o ser.

O curso oferece uma análise do tema da intencionalidade em seu desenvolvimento histórico e sistemático, desde Aristóteles e a filosofia antiga e medieval, até sua retomada e transformação em Brentano. O objetivo principal da disciplina é o conhecimento deste tema fundamental que atravessa a história da filosofia europeia, estudando os principais teóricos da intencionalidade da mente, tanto do ponto de vista da sua ontologia como da sua epistemologia. O seminário se empenhará em reconstruir o debate a partir da teoria das relações em Aristóteles, que trata de forma evasiva a relação mental como uma relação real, passando pelos seus diferentes intérpretes medievais, até Franz Brentano e a retomada deste conceito que fundamenta a fenomenologia contemporânea e ainda está no centro do debate sobre a natureza da mente.

Este trabalho analisa a verbivocovisualidade presente no traço estilístico arquitetônico na poética de Arnaldo Antunes. Fundamenta-se nos estudos bakhtinianos, a considerar a tridimensionalidade potencial e concreta da linguagem. Explora-se a palavra-coisa de AA a partir dos conceitos bakhtinianos, principalmente, a noção de enunciado e diálogo, por meio da análise de dois poemas escolhidos a partir dos critérios temático-figurativo e temporal. Calcado na metodologia dialético-dialógica (Paula, L.; Figueiredo; Paula, S., 2011), pensa-se o ato composicional do autor-criador que evidencia a verbivocovisualidade, a refletir e refratar, pela temática metalinguística, uma concepção de arte, linguagem, mundo e ser. A pertinência e relevância dos estudos se revela nos resultados, que traz novas reflexões para o campo, para as artes e educação, dado o impacto e inovação teórico-metodológica e analítica da verbivocovisualidade.

Este ensaio busca associar questões da representação nos quadrinhos enquanto arte e as relações sócioantropológicas da cultura que influenciam diretamente no processo de criação e interpretação dessas obras. Partindo de uma discussão sobre a estrutura narrativa japonesa kishotenketsu como contraponto às formas ocidentais, além de ferramenta de recorte para a análise do mangá Monster de Naoki Urasawa e sua representação particular da tragédia aristotélica clássica, o trabalho busca debater as estruturas, temáticas e demais elementos estéticos como fragmentos de uma formação cultural específica e das referências que possui, e que vão além da mera soma de suas partes. Com base nisso, o texto também argumenta que a mera análise do tema ou assunto retratado na obra é insuficiente para observar seu caráter regional. Ademais, o ensaio tem caráter experimental uma vez que busca aplicar a estrutura retórica do kishotenketsu em sua construção, apresentando introdução, desenvolvimento, quebra e resolução temática dos assuntos tratados.

O presente texto é uma consideravelmente ampliada versão em português de um pequeno livro intitulado The Philosophical Inquiry: Towards a Global Account (UPA 2002), que escrevi enquanto pesquisador visitante na Universidade da Califórnia em Berkeley, em 1999, quando assistia os espetaculares cursos de John Searle sob os auspícios da CAPES.
    Quero nessa apresentação fazer um breve resumo do que o leitor irá se deparar. Meu objetivo primário foi esboçar uma teoria abrangente da natureza da filosofia, mais sistemática e complexa e, espero, mais concludente do que eventuais concorrentes. Essa teoria é abrangente no sentido de envolver qualquer espécie de indagação filosófica, o que só se torna possível por ela ter sido desenvolvida externamente a elas, a partir de uma perspectiva histórico-cultural mais ampla do que aquela oferecida por uma ou outra filosofia específica. Essa teoria nasceu de uma investigação das conexões da filosofia com três atividades culturais mais fundamentais, que são a ciência, a religião e a arte. Em sua relação com elas, a filosofia foi identificada com uma atividade cultural derivada, cuja identidade resulta de ser ela uma espécie de amálgama de elementos originariamente encontrados no pensamento científico, na religião e na arte.
    Semelhanças e diferenças foram investigadas. Em sua proximidade com a arte, a filosofia pode ser concebida à maneira de uma “arte da razão”, unificando e integrando elementos conceituais com a liberdade e a flexibilidade providas pelo procedimento metafórico distintivo da atividade artística. Em sua proximidade com a religião, a filosofia tende a elevar o quão for possível a amplitude de suas sínteses, as quais inevitavelmente contêm elementos especulativos que tendem a ir além daquilo que pode ser obtido como resultado de uma investigação racional. Por fim, em sua proximidade com a ciência, a filosofia se revela como um esforço heurístico, direcionado à aproximação da verdade e a resultados efetivos, ainda que não chegue, enquanto tal, a alcançá-los. As relações entre filosofia, arte e religião são dinâmicas, alterando-se no curso da história. Aqui pode ser notado que com o gradual, mas constante desenvolvimento da ciência, muito de nossa filosofia tende a se afastar da religião e da arte para se aproximar aos poucos da ciência.
    Essa característica dinâmica da relação entre filosofia e ciência me levou a supor que a primeira possa ser ao menos em sua maior parte pensada como um esforço conjectural ou especulativo antecipador da ciência – como uma protociência. Tal suposição – que é centralmente incluída no texto – foi muitas vezes considerada como limitadora e empobrecedora de nossa compreensão da atividade filosófica. Esse juízo certamente procede, sempre que temos em vista uma concepção estreita, positivista ou reducionista do que possa ser entendido como ciência. Não obstante, o conceito de ciência que adotei no presente texto é suficientemente liberal e flexível para evitar essas dificuldades. A ideia básica pode ser encontrada em John Ziman, um físico que investigou o funcionamento social da ciência e a definiu como conhecimento público consensualizável. Desenvolvendo a mesma linha seguida por Ziman, defendi que a concepção mais intuitiva e plausível da natureza da ciência é que ela é toda e qualquer investigação que tem por fim a verdade consensual, conquanto esta seja gerada por uma comunidade crítica de ideias, entendida como capaz de satisfazer exigências similares às consideradas por Jürgen Habermas para uma comunidade ideal de fala. Só assim ela se torna capaz de produzir acordos consensuais legítimos sobre a verdade ou falsidade de seus resultados. Frente a uma concepção tão liberal de ciência, muito de nossa filosofia evidencia-se de forma natural como possuindo um aspecto decididamente protocientífico, pois ela se torna uma indagação que tem por objeto a verdade, mas que embora gerada por uma comunidade crítica de ideias que possui um lastro crítico cumulativo, ainda não se tornou capaz de alcançar qualquer acordo consensual legítimo sobre a verdade ou a falsidade dos seus resultados.
  Uma consequência importante de aceitarmos a concepção de filosofia como conjectura antecipadora de um conhecimento consensualizável foi relativizar – e não simplesmente refutar – a ideia de que a filosofia consiste em uma atividade de análise conceitual. O que chamamos de filosofia analítica – a filosofia como análise linguístico-conceitual – passou a ser apenas a filosofia como antecipação de uma ciência da linguagem (J. L. Austin), ou então, como resultado de progressos semióticos típicos do século XX (que incluem tanto o uso da lógica dos predicados aplicada à análise dos da “gramática profunda” de nossa linguagem natural), simplesmente a filosofia marcada pela ênfase propedêutica no elemento linguístico-conceitual, na ascensão semântica (W. V. O. Quine), auxiliar no sentido de prevenir confusões conceituais, mas que precisa, em adição a isso, ser capaz de tomar em consideração tanto o nosso senso comum humilde (‘mooreano’ na expressão de D. M. Armstrong) quanto a nossa presente imagem científica do mundo.

Neste artigo, tratamos da construcao de sentido em posteres de filmes. O nosso objetivo e o de observar as pistas verbais e nao verbais a partir das quais o leitor consegue construir sentido para o texto e, em certa medida, antecipar o conteudo do filme. Como texto, o poster traduzido e tambem lugar de producao de sentidos, permitindo-nos estabelecer uma articulacao entre traducao e linguistica textual, especialmente no que tange a interacao e aos conhecimentos partilhados. Nossa observacao e feita em um corpus composto por sete posteres de filmes em lingua inglesa, lancados em 2014 no Brasil.

The cinematographic language in a literary narrative consists in the existence of elements of cinema in literature, representing an intertextuality. Our corpus, the contemporary Portuguese novel Os meus sentimentos, by Dulce Maria Cardoso, presents a narrator-protagonist Violeta who, drunk and after a car accident, narrates, in reverse order, what could be her last day of life. And, interspersed with this narration, Violeta lets out her story: an obese woman rejected in all spheres of her life. The speech is very innovativea period punctuated only by commas that lasts throughout the novel, which is more than three hundred pages long. There is, therefore, no traditional paragraphing; and there are graphically isolated phrases that interrupt the discourse, some of which we call catchphrases, due to their repetition and strength in the narrative. The catchphrases work like cinematic flashbacks, as they are interruptions that take the narrator-protagonist to the past. Having this structure as a foundation, we aim to investigate the possible relationships between the novel and the cinematographic language, corroborating the studies of the intersection between cinema and literature in an unconventional way, as we only act at the language level. The possibility of dialogue between the artistic representations is present in Cardoso's work, since the novel studied has already been adapted for the theater by Mónica Calle, as well as the short story "Não esquecerás", which was also adapted for a

Este artigo investiga como a assim chamada hinge epistemology (epistemologia das dobradiças), de Wittgenstein, pode lançar luz sobre a persistência do colonialismo nas estruturas raciais brasileiras, ao tomarmos criticamente como eixo analítico o mito da democracia racial e a ideologia do branqueamento. Argumentamos que essas narrativas funcionam como certezas fulcrais — proposições estruturantes, não questionadas, que constituem uma determinada imagem de mundo e, neste caso, organizam e orientam práticas sociais e hierarquias étnico-raciais. A partir de teorias pós-coloniais (Quijano, 1992; Munanga, 2020), defendemos que tais dobradiças epistemológicas sustentam a dominação racial pelos seguintes aspectos: (1) a naturalização da miscigenação como sinônimo de harmonia encobre profundas desigualdades materiais e a violência gramatical do colonialismo; (2) o epistemicídio (Carneiro, 2023) apaga imaginários negros ao impor uma “imagem mistificada” eurocêntrica; e (3) o “pacto narcísico da negritude parda” (Andrade, 2023) revela a assimilação como uma estratégia de sobrevivência em espaços hegemonicamente brancos. Palavras-chave: Epistemologia das Dobradiças; Wittgenstein; Antirracismo; Anti-colonialismo; Epistemicídio; Violência Gramatical.

agradeço pela perseverança e companheirismo. "Entre a atracção de perder-me num todo vibrante e o orgulho de agarrar-me a uma ideia qualquer de individualidade, hesito. Não me sinto pertença de nada. Nem sequer de mim." Dulce Maria Cardoso (2017, p. 25) O estudo da produção romanesca de Dulce Maria Cardoso revela um minucioso trabalho da forma por parte da escritora, que vai da linguagem irônica à rememoração por meio do fluxo de consciência. Tal característica chega ao ápice no romance Os meus sentimentosnosso corpuscomposto por apenas um período que se estende por mais de trezentas páginas. O objetivo da dissertação é comprovar a hipótese de que, no romance em pauta, o temaque é o sentimento de não-pertençaé constituído principalmente pelas seguintes categorias: linguagem, personagem, narração, focalização e tempo. Por meio da voz narrativa da protagonista, da focalização interna fixa e do vaivém temporal acompanhado de fluxo de consciência elabora-se tal sentimento. Os dois últimos recursosinversões temporais e fluxo de consciênciaconstroem a consciência da personagem e também o que pode ser considerado como subconsciência. Tendo em vista a disposição estrutural de tais categorias da narrativa escolhida objetiva-se ainda verificar se elas exercem papel assemelhado em outras obras da escritora portuguesa. Outrossim, objetivamos definir a não-pertença, bem como compreender qual a relação que a produção literária de Dulce Maria Cardoso estabelece com a literatura portuguesa contemporânea. A fim de atingir tais objetivos, contamos com embasamento teórico-crítico dividido em quatro linhas principais: definição de não-pertença, contando com George H. Mead em Mente, self e sociedade, Abraham Maslow em Motivation and personality e Zygmunt Bauman em Identidade; proposições teóricas sobre personagem, narração, focalização e tempo, contando principalmente com "A personagem do romance", de António Candido, "A meia marrom", de Erich Auerbach e Discurso da narrativa, de Gérard Genette; crítica sobre a produção da escritora, sobretudo o artigo "Liquidez, reconfigurações e pluralidades: a representação identitária da sociedade portuguesa em Chão de Pardais de Dulce Maria Cardoso", de Nefatalin Gonçalves Neto e Angela Gama; e o ensaio sobre o romance português contemporâneo A voz itinerante, de Álvaro Cardoso Gomes. Palavraschave: Literatura portuguesa contemporânea. Dulce Maria Cardoso. Os meus sentimentos. Construção da não-pertença.

incentivo e confiança a mim dedicados. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior -Brasil (CAPES) -Código de Financiamento 001. "Os livros salvaram-me." Dulce Maria Cardoso (2014, p. 37) "Libros, libros... (...) era el libro que es como un ventanal abierto por donde se nos vuelca el sol..." 1 Dulce María Loynaz (1993, p. 61). 1 Livros, livros... (...) foi o livro que é como uma janela aberta por onde brilha o sol... (tradução nossa). A intertextualidade é a relação estabelecida entre dois ou mais textos. Em nosso estudo, tratamos da intertextualidade literária, isto é, da inerência do fenômeno intertextual dentro do sistema literário em si. Tal sistema consiste numa teia de relações entre textos prévios e posteriores sem a qual este sistema seria incompreensível ao seu leitor, que, inconscientemente, sempre recorre à própria bagagem artístico-literária para interpretar e apreender as camadas de sentido possíveis do texto literário. O corpus de nosso estudo, por sua vez, é extenso: consiste em oito obras, sendo cinco narrativas e três poemas. Das narrativas, quatro são os primeiros romances publicados pela escritora portuguesa contemporânea Dulce Maria Cardoso, a saber: Campo de sangue, Os meus sentimentos, O chão dos pardais e O retorno em ordem de publicação. Uma narrativa -Jardíne três poemas são da escritora cubana Dulce María Loynaz. A narrativa e os poemas cubanos constituem epígrafes ou texto-origem de epígrafes ou conceito (caso exclusivo de Campo de sangue) dos romances portugueses. A hipótese de pesquisa levantada é a de que a escritora portuguesa escreve a partir da cubana, subvertendo, por meio de suas personagens, o discurso poético de Loynaz. Almejamos, nesse sentido, investigar essa intertextualidade que se constrói entre o texto e o paratexto, isto é, entre a diegese dos romances portugueses e os textos-origem de seu conceito e epígrafes, todos de autoria da escritora cubana supracitada. É importante destacar que a extensão do corpus não comprometeu a exequibilidade da pesquisa devido ao foco no cotejo do intertexto. Nossa baliza teórica comportou dois direcionamentos principais: (1) estudos sobre a intertextualidade e (2) estudos sobre a epígrafe.

Resumo: À luz da perspectiva teórica proposta por Mikhail Bakhtin e seu Círculo, voltamos nosso olhar para textos produzidos por sujeitos historicamente situados e propomos uma investigação da multiplicidade de sentidos da linguagem escrita sob a teoria dos gêneros do discurso. Neste trabalho, concebemos a linguagem como meio de interação social e assumimos que a escrita se caracteriza como interlocução entre leitor e escritor. Partimos, portanto, do pressuposto de que os sentidos do texto escrito são constituídos de maneira dialógica, com o objetivo de compreender como os indícios dos gêneros discursivos, em suas características relativamente estáveis, emergem dos escritos de crianças do terceiro ano do fundamental de um colégio público federal. Como resultado desta interação, temos as produções textuais de crianças, cuja análise -guiada pela metodologia do Paradigma Indiciário (Ginzburg, 1989) -mostra de que maneira se sobressaem os traços de estilo, tema e construção composicional dos gêneros ainda em fase de constituição da escrita, além de evidenciar o texto como espaço de interlocução, em que o ato de escrever adquire caráter responsivo, ou seja, como um processo de constituição ativa de seus sentidos.

O projeto da modernidade, centrado no princípio da subjetividade, é objeto de uma leitura crítica na obra de Habermas. Partindo de Descartes, cujo Cogito iniciou a construção de um projeto fi losófi co-científi co fundado nas certezas da consciência humana, passando por Kant e seu sujeito transcendental enquanto referencial último para um conhecimento seguro e culminando em Hegel, o último grande metafísico e reconciliador das aporias inerentes ao pensamento moderno, a fi losofi a encontra nas novas confi gurações do pensar contemporâneo um desafi o a ser enfrentado e superado. Habermas se propõe reconstruir esse projeto e, numa primeira fase do seu pensar, procura por novas possibilidades de pensar e articular não somente o lugar do marxismo na teoria crítica, mas a teoria do conhecimento enquanto tal.

RESUMO:A finalidade deste artigo é mostrar como Heidegger concebe a essência da linguagem. Para isso, travamos uma conversa com ele mediante A Caminho da Linguagem, um diálogo que privilegia mais a escuta que a fala. Ouvimos seu apelo acerca da relação entre poesia e pensamento e da essência da linguagem. Analisamos quais as implicações do seu interesse pela etimologia e o que há em comum entre ele e os semanticistas da enunciação. O filósofo nos diz que, se pararmos, estamos mais perto da linguagem do que nos movimentando em sua busca.

Este artigo busca estabelecer uma articulação filosófico-epistemológica entre a epistemologia de dois polos de Gaston Bachelard, a metafísica pós-moderna (representada por autores como Manuel Moreira da Silva e Alfredo Pereira Junior.), e o novo paradigma psicofísico proposto pela Teoria Kosmos. Exploramos a interseção entre razão e vivência como modos complementares de desvelamento do Ser, situando a epistemologia bachelardiana como eixo mediador entre a representação científica e a vivência fenomenológica. Tal articulação nos permite integrar a racionalidade formal da física-matemática moderna com o campo sensível e simbólico da consciência, promovendo uma ontologia relacional baseada na realização científica e no campo mental emergente da interface cosmológica.

Neste ensaio, tentei ao máximo evitar dizer “tal filósofo disse tal”, pois temo cometer erros hermenêuticos, para mim principal preocupação do pesquisador em filosofia. A hermenêutica de textos filosóficos demanda tempo e cautela e não se faz um bom trabalho em filosofia violando o texto do autor filosófico como se bem quer.
Também, como o problema deste ensaio o exige, tratei de muitos objetos filosóficos e, geralmente, aquele que quer falar de muita coisa fala besteiras. Assim, tenho consciência de possíveis muitos erros, não me conformando a eles. Este é o primeiro esboço e não descansarei sem resultados excelentes.

As a result of our Master's thesis (Luciano, 2021), in which we think about the threedimensional conception of the verbivocovisual language in the Bakhtinian philosophy of language, we propose for this research a reflection about the materialization from three works of different semiosis: Wassily Kandinsky's Composition VIII (1923), Vladimir Mayakovsky's Conversation with a tax collector about poetry (1926) and the Shostakovich's Piano sonata op. 12 (1926). In order to delimit our research's corpus, there was four theoreticalmethodological criteria: on one hand, there was the need of authors from the 20 th century Russian Soviet context and, on the other hand, authors who are expressive representatives of each materiality analysed by us (verbal, visual and sound). At the same time, the authors should represent an artistic interrelation in their works. Those were two criteria that led us to those artists. Furthermore, for the works, there was the need for each of the artistic creations to be supposedly constituted by a single external materiality, in addition to having been conceived in the 1920s by the authors, which resulted in the corpus formation established above. Our purpose is to comprehend and analyse how verbivocovisual language dimensions, identified and studied previously by us in the "Bakhtin, Medvedev, Voloshinov" Circle (Vauthier, 2010) language philosophy, manifest themselves in the aforementioned aesthetic productions, through the organization, articulation and three-dimensional interrelation of language in its evaluative potential in sign materiality in view of the production of meaning in the enunciative act, expressed in a given architectural, generic construction. For that, we analyze the three forementioned works through the Bakhtinian line of study and their dialeticdialogical method (Paula et alii, 2011). We consider that these works, both the aesthetical ones and the thinking collective B.M.V.'s philosophical proposition, reveal a philosophical conception and a methodological principle in vogue in the 1920's Soviet Union around the conception of Slovo (living word), which refers to the idea of language as the subject and the world's creation/revelation/incarnation and also is present in that time's production, creating a particular research agenda to this period of time shared in a general way by this context's intellectuals in order to reach the maximum aspiration of the century of the great project's construction and consolidation that was the new Soviet society and man. The relevance of this research is characterized by bringing light to the concepts of language, utterance and the foundations of and in the Circle (and from it), as well as the proposition of a new approach in Bakhtinian studies in Brazil, the expansion and updating of theoretical-methodological possibilities in this perspective for analyses of contemporary verbivocovisual productions in a socio-historical context marked by new technologies and computational resources.