Os textos que compõem esta obra foram submetidos para avaliação do Conselho Editorial da Pimenta Cultural, bem como revisados por pares, sendo indicados para a publicação. Dedicamos esta obra ao Professor Dr. Sebastião Josué Votre, que...
moreOs textos que compõem esta obra foram submetidos para avaliação do Conselho Editorial da Pimenta Cultural, bem como revisados por pares, sendo indicados para a publicação. Dedicamos esta obra ao Professor Dr. Sebastião Josué Votre, que criou o Grupo de Estudos Discurso & Gramática, no início da década de 1990, e que hoje continua a nos inspirar com sua paixão pelos estudos. O principal público-alvo são alunos de graduação em Letras, como mencionado, e pessoas interessadas em fazer projetos de pesquisas em linhas que dialogam com a abordagem funcionalista que utilizamos. A obra é composta por onze capítulos, cada um com um resumo para nortear os leitores, uma seção para conhecer o fenômeno linguístico em estudo, uma seção sobre as suas tendências de uso, uma seção de exercícios primordialmente de análise de dados linguísticos, uma seção em que os autores sugerem textos para os alunos aprofundarem o assunto e uma seção final com as referências citadas ao longo do capítulo. O livro foi projetado para que o professor de disciplinas ligadas aos usos linguísticos ou disciplinas sobre correntes linguísticas baseadas no uso possa abordar questões teóricas e metodológicas a partir do estudo de diversos pesquisadores da área que escreveram pensando num público de graduandos. Também foi projetado para que interessados na área possam ter meios de montar seus pré-projetos de pesquisa para monografias ou Mestrado com exemplos de como se analisam dados reais da língua portuguesa numa perspectiva funcional. Vejamos um pouco sobre cada capítulo. Maria Angélica Furtado da Cunha e Edvaldo Balduíno Bispo abordam, no Capítulo 1, "Construções de estrutura argumental: teoria e prática", um tema muito caro à corrente funcionalista, de modo a fazer o aluno refletir sobre os diferentes tipos sintáticos de orações, sobre seus papéis semântico-pragmáticos e sobre construções idiomatizadas em diferentes graus criadas a partir de esquemas construcionais muito frequentes. Um exemplo é a construção triargumental, com papel de apresentar movimento causado, como "Ela colocou tudo na mala", que serve de base para expressões como "colocar chifre em alguém" e "colocar tudo em dia". Os autores demonstram que a estrutura argumental de um verbo é variável a depender do contexto linguístico em que é empregado, não havendo, portanto, estrutura rígida. Sendo assim, os autores defendem que a estrutura argumental dos verbos é um tipo de conhecimento adquirido à medida que o falante aprende a usar sua língua. No Capítulo 2, "A Construção Monoargumental VS de Focalização no português brasileiro", Roberto de Freitas Jr. e Priscilla Mouta Marques retomam pesquisas basilares sobre a temática destacada em âmbito histórico e construcional e discutem o papel da informatividade sobre as cláusulas com sujeito posposto ao verbo. Além disso, sob um aporte cognitivo-funcional, demonstram que há diferentes subesquemas ligados à ordenação VS com características formais e funcionais. Seus exemplos ilustram o caráter de herança construcional e sua ligação com a frequência dessas construções no português do Brasil. Já no Capítulo 3, "Construções com verbo suporte dão match na gramática das línguas", Marcia dos Santos Machado Vieira e Pâmela Fagundes Travassos discutem, por meio de exemplos de diferentes línguas, as formações linguísticas com verbo suporte. Considerando as práticas comunicativas e os aspectos variáveis e mutáveis a partir de dados extraídos de contextos reais de uso variados, as autoras comprovam a versatilidade formal e pragmática desses elementos por meio de questões semânticas, discursivas, sociais, morfossintáticas e lexicais. No Capítulo 4, intitulado "Adverbiais Modalizadores", Deise Cristina de Moraes Pinto e Dennis Castanheira apresentam análises e resultados de trabalhos de cunho funcionalista sobre os adverbiais modalizadores e discutem as tendências de uso de tais adverbiais, partindo de dois pontos cruciais: sua ordenação na sentença e os efeitos de modalização que envolvem (inter)subjetividade. Os autores apontam que os modalizadores têm papéis sintáticos e discursivos diversos (apresentando, por vezes, graus de subjetividade distintos), a depender do contexto em que estejam inseridos, e comprovam sua afirmação com uma vasta apresentação de exemplos extraídos de variadas fontes. No Capítulo 5, escrito por Priscilla Mouta Marques e Júlia Langer de Campos e intitulado "Construções adverbiais de modificação verbal: as construções com adjetivos adverbiais e com advérbios em -mente", as autoras apresentam as particularidades formais e funcionais de construções com adjetivo adverbial ("falar correto") e com advérbio em -mente ("falar corretamente"). Suas elucidações são pautadas em questões qualitativas e quantitativas e em diferentes exemplos e vão ao encontro da ideia de que as construções [V AA] e [V Xmente] são pragmaticamente distintas, com padrões discursivos diferentes quanto à informatividade e à focalização. Já no Capítulo 6, "Locuções temporais do português: uma análise funcionalista", Érika Cristine Ilogti de Sá e Maria Maura Cezario discutem os usos de locuções adverbiais de tempo ("na quinta-feira passada", "em 23 de novembro de 2006", "durante o trimestre" e "até agora") por meio de suas tendências em relação à ordenação e aos valores semânticos no português escrito contemporâneo. Para isso, retomam trabalhos anteriores sobre a temática e utilizam vários exemplos retirados de textos recentes da mídia analisando seus padrões de uso, a fim de estabelecer tendências mais gerais sobre o assunto. No Capítulo 7, "Estratégias de conexão do português em uso no Brasil", Ivo da Costa do Rosário, Mariangela Rios de Oliveira e Monclar Guimarães Lopes apresentam alguns meios de conexão do português criados a partir de mudanças semânticas que costumam ocorrer nas línguas, revisando trabalhos importantes na linha funcionalista, como a pesquisa de Heine et al. (1991) e a de Traugott e Dasher (2002). Com base na proposta funcionalista, discutem como construções como sem contar, sem falar e fora isso são usadas como conectores importantes como estratégias de argumentação. Com uma rica exemplificação, os autores levam o leitor a refletir não somente sobre o papel de conectores no discurso, mas também no modo como criamos novos conectores na língua para darmos conta de nossos propósitos comunicativos. No Capítulo 8, "Cláusulas insubordinadas no português em uso", Violeta Rodrigues aborda um tema ainda pouco explorado na nossa língua: a insubordinação. A autora explica o fenômeno a partir de dados reais coletados de diferentes fontes como o WhatsApp e o Twitter e demonstra que é muito comum o uso de orações sem a chamada oração principal ou matriz, mas com um conector tradicionalmente subordinativo no início de oração, como "Que a alegria seja seu primeiro abraço pela manhã" (frase de conversa de Whatsapp). A pesquisadora traz uma ótima revisão sobre o assunto, apresenta vários padrões diferentes de insubordinação e explicita os seus principais papéis pragmático-discursivos. Em "Construções oracionais hipotáticas: links entre os domínios da causa, da condição e da concessão", Capítulo 9 do livro, Thiago dos Santos Silva, Juliana Barboza do Nascimento, Maria Maura Cezario e Dennis Castanheira apresentam as tendências de uso de algumas construções hipotáticas iniciadas por [X que] (ainda que, mesmo que, posto que, dado que e visto que), objeto de investigação de diversos estudos já realizados sob aportes teórico-metodológicos distintos que serviram de fonte para o desenvolvimento dos que são aqui apresentados sob uma abordagem construcionista. Destacam que tais construções, embora possam ser introdutoras do mesmo tipo de oração, por exemplo, apresentam diferentes comportamentos na língua, dependendo dos propósitos comunicativos dos falantes. Ademais, apontam que há diferenças de uso de uma mesma construção e que tais diferenças também estão relacionadas a pressões discursivo-pragmáticas. No Capítulo 10, "Construções epistêmicas: os casos de vai que e de repente", Nastassia Santos Neves Coutinho, Leyla Ely, Juan Lima de Paula e Manoela Amstelden Ambiell discutem os usos de duas construções relativamente recentes na língua portuguesa, as construções vai que e de repente. Embora tenham usos diferentes, essas construções desempenham um papel semelhante por fazerem parte do paradigma de marcadores de modalidade epistêmica, expressando cada qual um grau diferente de (inter)subjetividade. Essas construções ocorrem com muita frequência em porções textu-ais argumentativas, trazendo nas orações em que se inserem pontos de vista para justificar alguma opinião ou alguma sugestão. Fechando esta obra, Karen Sampaio Braga Alonso e Nuciene Caroline Amphilóphio Fumaux, em capítulo intitulado "Construções Binominais Quantificadoras", apresentam uma interessante análise sobre construções como um monte de N (um monte de coisas), uma enxurrada de N (uma enxurrada de dólares), um bocado de N (um bocado de gente) entre outras. As autoras destacam que as construções binominais podem ser de diversos tipos e que têm a função de multiplicar ou porcionar referentes. Tratam, então, nesse texto, de três categorias relacionadas ao conceito de quantidade (Talmy, 2006): plexidade, estado de delimitação e estado de divisão. Evidenciam, assim, que as construções binominais quantificadoras podem ser usadas para exprimir quantidade de variadas formas, mais precisas ou mais imprecisas, com avaliações mais subjetivas ou refletindo medidas mais convencionalizadas. Gostaríamos de destacar, ainda, que o projeto deste livro foi selecionado pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal do Rio de Janeiro para financiamento com verba CAPES/PROEX, que seus capítulos foram avaliados por especialistas em Linguística Funcionalista, que a Editora escolhida pelo Programa tem Comitê Editorial e já tem muita experiência na produção de livros acadêmicos. Por fim, destacamos que várias...