O artigo tem como objetivo discutir em que medida o breve conjunto de poemas O Pastor Amoroso, at... more O artigo tem como objetivo discutir em que medida o breve conjunto de poemas O Pastor Amoroso, atribuído a Alberto Caeiro, dialoga com a tradição filosófica e poética ocidental, considerando que a correlação entre amar e pensar não é, em si mesma, evidente nem universalmente verificável. Leremos, portanto, os poemas de Caeiro à luz da tradição metafísica iniciada por Platão e retomada, na Idade Média, pelos versos de Dante, a fim de demonstrar que a defesa sensacionista da imediaticidade e da simplicidade do Mestre revela, na verdade, um intenso diálogo crítico com a tradição filosófica e poética subjacente ao processo criativo de Pessoa.
O artigo tem como objetivo discutir certo mal-estar ético e político no pensamento estruturalista... more O artigo tem como objetivo discutir certo mal-estar ético e político no pensamento estruturalista — especialmente na desconstrução derridiana e em seus herdeiros — segundo o qual as estruturas seriam, simultaneamente e paradoxalmente, origem e causa de toda liberdade e de toda violência. Problematizamos tal hipótese dividindo o artigo em três partes: na primeira, analisamos as teses de Saussure sobre a arbitrariedade do signo com base na leitura mais atual de Patrice Maniglier (2023); em seguida, discutimos em que medida as teses saussurianas retomam conceitos e ideias próprias ao Crátilo, de Platão; na terceira, apontamos para alguns impasses da desconstrução derridiana no trato com o conceito de justiça a partir do embate com Saussure e Platão. Com isso, concluímos que o mal-estar no estruturalismo parece derivar de um uso hiperbólico das metáforas da “justiça” e da “violência” aplicadas ao problema da representação de modo a retomar a hipótese platônica da “correção” e da “justiça” dos nomes.
Neste artigo, analisamos como a maternidade é narrada no romance Com armas sonolentas, de Carola ... more Neste artigo, analisamos como a maternidade é narrada no romance Com armas sonolentas, de Carola Saavedra (2018), cujo enredo enseja uma reflexão a respeito da derrocada do mito do amor materno, o qual postula a bondade inata da mãe (BADINTER, 1980). No romance, a bondade materna é contestada, já que a reação de uma mãe à sua gravidez e às tarefas implicadas no cuidado da criança é narrada a partir de uma disjunção entre dar à luz e amar a prole. Com base nesses aspectos, concluímos que no romance a ambivalência do amor materno se apresenta a partir de uma tensão entre dois polos de significação: o primeiro, trágico (SZONDI, 2004); o segundo, formador (MAAS, 2000).
O objetivo do artigo é apresentar uma interpretação das origens do romantismo a partir do s... more O objetivo do artigo é apresentar uma interpretação das origens do romantismo a partir do surgimento, na passagem do século XVIII ao XIX, do conceito de originalidade aplicado à obra de arte. Com esse fim, dividimos o artigo em três partes. Primeiro, demonstraremos como, em fins do século XVIII, o problema empirista do juízo de gosto colocou em crise o conceito racional de belo próprio à tradição neoclássica. Em seguida, leremos como essa crise é respondida por Edward Young, no ensaio Conjectures on original composition,a partir da formulação de um critério orgânico de ajuizamento da obra de arte. Por fim, demonstraremos como o jovem Goethe, em seu ensaio “Sobre a arquitetura alemã”, desen-volve uma inversão de pressupostos platônicos que será legada ao primeiro romantismo alemão.
O objetivo deste artigo é avaliar em que medida o projeto de escrita espontânea de Jack Kerouac i... more O objetivo deste artigo é avaliar em que medida o projeto de escrita espontânea de Jack Kerouac impõe alguns problemas metodológicos para a crítica genética. Para este fim, divido a argumentação em duas partes. Na primeira, discutirei algumas das premissas antirromânticas da crítica genética no contexto da crise da representação e da “morte do autor” comentando passagens de Barthes e Derrida. Em seguida, com base na experiência de leitura de seus manuscritos, farei uma breve apresentação da obra e dos métodos de escrita de Kerouac para discutir como se pode entender formalmente a espontaneidade como um campo de investigação da crítica genética. Com isso, concluo chamando a atenção para a importância de se pensar metodologias de análise genética que ampliem a compreensão da enunciabilidade ou da performatividade do manuscrito, considerando o problema paulino da fé como “proximidade entre voz e coração”, tal como discutido por Giorgio Agamben.
Este ensaio propõe algumas reflexões sobre o romance Minha mãe se matou sem dizer adeu... more Este ensaio propõe algumas reflexões sobre o romance Minha mãe se matou sem dizer adeus(2010), deEvandro Affonso Ferreira, procurando estabelecer relações entre os temas da escrita, melancolia e suicídio. O narrador é um quase octogenário que aguarda sua morte iminente e insiste na afirmação de que o ato da escrita é o que lhe impede de seguir os passos da mãe –que partiu por vontade própria, sem deixar carta de despedida –rumo ao autoaniquilamento. No entanto, conforme nos aproximamos de seu desfecho, essa função parece ser reinterpretada, tornando-se o próprio escrever um gesto suicida. Auxiliam na fundamentação teórica as reflexões propostas por Tofalini (2013), Freud (2013), Kristeva (1989), Alvarez (1999) e Carvalho (2010), entre outros.
Neste artigo, analisamos como a maternidade é narrada no romance Com armas sonolentas, de Carol... more Neste artigo, analisamos como a maternidade é narrada no romance Com armas sonolentas, de Carola Saavedra (2018a), cujo enredo enseja uma reflexão a respeito da derrocada do mito do amor materno, o qual postula a bondade inata da mãe (BADINTER, 1980). No romance, a bondade materna é contestada, já que a reação de uma mãe à sua gravidez e às tarefas implicadas no cuidado da criança é narrada a partir de uma disjunção entre dar à luz e amar a prole. Com base nesses aspectos, concluímos que no romance a ambivalência do amor materno se apresenta a partir de uma tensão entre dois polos de significação: o primeiro, trágico (SZONDI, 2004); o segundo, formador (MAAS, 2000).
RESUMO: O presente artigo pretende investigar como Foucault reflete, em História da Loucura, sobr... more RESUMO: O presente artigo pretende investigar como Foucault reflete, em História da Loucura, sobre o estatuto ontológico da loucura por meio de ideias provenientes da ontologia da obra de arte. Neste sentido, me atentarei ao diálogo entre Foucault, Nietzsche e Blanchot, mostrando como os três pensam a questão do ser da obra de arte sempre em oposição a uma razão dialética.
Meu objetivo é discutir as experiências do tempo próprias da história da arte moderna. Discuto co... more Meu objetivo é discutir as experiências do tempo próprias da história da arte moderna. Discuto como filósofos definiram o conceito de arte com base na escatologia cristã e também analiso em que medida classicismo e romantismo são duas faces de uma mesma modernidade. Ao fim, concluo com uma discussão sobre as implicações dessa reflexão tanto para historiadores da arte quanto para artistas.
História da Loucura é um texto marcado pela crítica à tradição dialética que Nietzsche havia esbo... more História da Loucura é um texto marcado pela crítica à tradição dialética que Nietzsche havia esboçado em seu Nascimento da Tragédia. Isto fica evidente quando Foucault diferencia dois tipos de “experiências” da loucura no limiar entre medievo e renascimento: uma experiência trágicada loucura, imperante nas artes plásticas de Bosch e Bruegel, em oposição a uma experiência crítica, que se expressa majoritariamente em textos literários moralistas e cômicos como de Brant e Erasmo. Com base nessa distinção, Foucault propõe que a diferença entre a experiência trágica e crítica da loucura se dá quando as imagens de Bosch revelam os limites da linguagem verbal, acontecimento histórico que chamou de “ruína do simbolismo gótico”. O objetivo deste artigo é ressaltar a anacronia desta interpretação histórica de Foucault, apontando para como a crítica de Nietzsche à tradição dialética de Platão e Hegel contribuiu para a formulação de uma hipótese sem rigor historiográfico.
Apresentação histórica sobre o suicídio nas narrativas de amor romântico, junto a uma discussão f... more Apresentação histórica sobre o suicídio nas narrativas de amor romântico, junto a uma discussão filosófica sobre o conceito de "contágio" de suicídio e do Efeito Werther, sob o ponto de vista da teoria literária.
O objetivo deste artigo é investigar como Giorgio Agamben problematiza a cisão entre filosofia e ... more O objetivo deste artigo é investigar como Giorgio Agamben problematiza a cisão entre filosofia e poesia em Platão. Identificamos dois momentos da crítica de Agamben a Platão: 1) em O Homem sem Conteúdo, a cisão entre poesia e filosofia aparece no contexto do projeto de uma “destruição da estética”, cujo foco é diferenciar os modos de produção “prático” e “poético” em sua relação com a história da metafísica; 2) em Estâncias, a cisão entre poesia e filosofia aparece em meio à análise da poesia de amor medieval, cujos conceitos de “amor” e de “fantasma”, mesmo se fundando numa tradição neoplatônica, apresentam um certo entendimento da origem da palavra poética que supera a cisão platônica entre verdade e fantasma. Busca-se apresentar de que modo estes dois momentos da crítica de Agamben à metafísica de Platão têm como objetivo restituir à filosofia o seu estatuto ético-poético.
This paper aims to understand how Giorgio Agamben dialogues with
psychoanalysis (especially with ... more This paper aims to understand how Giorgio Agamben dialogues with psychoanalysis (especially with Lacan’s work) to support his understanding of the human as an indiscernible zone between nature and culture. To do so, we will exhibit two subjects developed by Agamben: 1) the relation between the concept of in-fancy and Lacan’s notion of the unconscious, and 2) the definition of the symbolic in its relation to the psychoanalytical conception of sign. This will lead us, at the end, to a reflection about the symbolic/diabolic character of language supported by Agamben’s understanding of the platonic concepts of daímōn and Eros.
Resumo: Em " Tentativa de autocrítica " , publicado em 1886 como prefácio a O Nascimento da Tragé... more Resumo: Em " Tentativa de autocrítica " , publicado em 1886 como prefácio a O Nascimento da Tragédia, Nietzsche se propõe a reavaliar as teses desenvolvidas em seu livro de estreia. Sua intenção é relativizar a seriedade de seu tratamento à tragédia enquanto consolo metafísico à existência, propondo o riso como uma alternativa ao pessimismo de Schopenhauer e ao romantismo de Richard Wagner. O objetivo do presente artigo é avaliar esta tendência cômica e autocrítica de Nietzsche, relacionando-a à ruptura estabelecida por Humano, Demasiado Humano em seu percurso filosófico. Propomos assim a leitura de um Nietzsche tragicômico, que tenta restituir em seus textos tardios o riso cruel e dionisíaco da Grécia pré-socrática, o riso negligenciado em O Nascimento da Tragédia em favor da tese do renascimento do pessimismo na cultura alemã no fim do século XIX.
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo mostrar que On the Road, romance do escritor estadu... more Resumo: O presente trabalho tem como objetivo mostrar que On the Road, romance do escritor estadunidense Jack Kerouac, pode ser vinculado à tradição moderna do Bildungsroman devido ao modo como se articulam no texto o tempo histórico, o tempo narrativo e o tempo da experiência dos personagens. Alguns críticos estadunidenses, como Regina Weinreich (1984), James T. Jones (1999) e Ben Giamo (2000), já se atentaram para a importância do problema do tempo em Kerouac, reconhecendo seus desdobramentos narrativos em The Legend of Duluoz, o conjunto de romances autobiográficos no qual se insere On the Road. No Brasil, um dos críticos que melhor trabalha o tema da experiência mística em Kerouac é Claudio Willer (2014), que, em Os Rebeldes, analisa a hetorodoxia religiosa dos principais expoentes da Geração Beat. Na intenção de contribuir com a continuidade deste conjunto de estudos, pretende-se aqui mostrar que essa faceta mística e existencial de Kerouac se articula necessariamente com pressupostos estéticos e filosóficos da tradição alemã da Bildung, especialmente aqueles observáveis a partir da obra O Declínio do Ocidente, de Oswald Spengler (1928a; 1928b).
This paper presents an interpretation of the theme of transcendence in With my dog eyes, by Hilda... more This paper presents an interpretation of the theme of transcendence in With my dog eyes, by Hilda Hilst, considering it as an example of the poetic disposition of her work. Such reading is based on Giorgio Agamben’s understanding of transcendence as an experimentum linguae, i.e., a poetic experience with language. We assume here that the character Amós Kéres, poet and mathematician, symbolizes the figure of the romantic writer in search of the originality of his writing. By narrating Amós’ experience of a profound existential tedium – in dialogue with Goethe’s Faust – Hilda Hilst presents the creative process (poiesis) as an experience formally identical to a philosopher’s experience when confronting nothingness.
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Papers by Gabriel Pinezi
psychoanalysis (especially with Lacan’s work) to support his understanding of the human as an indiscernible zone between nature and culture. To do so, we will exhibit two subjects developed by Agamben: 1) the relation between the concept of in-fancy and Lacan’s notion of the unconscious, and 2) the definition of the symbolic in its relation to the psychoanalytical conception of sign. This will lead us, at the end, to a reflection about the symbolic/diabolic character of language supported by Agamben’s understanding of the platonic concepts of daímōn and Eros.
character Amós Kéres, poet and mathematician, symbolizes the figure of the romantic writer in search of the originality of his writing. By narrating Amós’ experience of a profound existential tedium – in dialogue with Goethe’s Faust – Hilda Hilst presents the creative process (poiesis) as an experience formally identical to a philosopher’s experience when confronting nothingness.