Autores como Ivan Illich, E. F. Schumacher e Jeremy Rifkin propõem uma inversão dos termos consensuais na análise da economia e tecnologia das sociedades avançadas. Estas propostas podem ser interpretadas como reacção às ameaças que a...
moreAutores como Ivan Illich, E. F. Schumacher e Jeremy Rifkin propõem uma inversão dos termos consensuais na análise da economia e tecnologia das sociedades avançadas. Estas propostas podem ser interpretadas como reacção às ameaças que a tecnologia representa para o equilíbrio entre a acção do ser humano e as condições para a sua própria sobrevivência. O objectivo deste estudo é enquadrar criticamente as considerações destes autores acerca da economia política da tecnologia no actual contexto de emergência de novas tecnologias. Esta reflexão pretende apontar alguns contra-sensos no discurso "integracionista" ou "progressista", que toma as TIC como parte integrante de um desejável e permanente progresso tecnológico, que devolveria ao cidadão o controlo dos conteúdos consumidos e retirar à cultura de massas algum do seu peso cognitivo. As contradições referidas ascendem da efectiva concentração do controlo em grupos económicos internacionais, muito pouco afectada pelos anúncios de revolução tecnológica. As tecnologias emergentes (que incluem as TIC, nanotecnologia, biotecnologia, ciência e tecnologia cognitivas) não são, neste enquadramento, verdadeiramente revolucionárias, mas tão-somente uma continuação progressivamente sofisticada das "metodologias industriais" (Ivan Illich). Muito embora, idealmente, as TIC pudessem ser concebidas como um instrumento convivial (i.e., segundo Illich em Tools for Conviviality, que beneficia a «interacção autónoma e criativa entre as pessoas, como forma de realização interpessoal das liberdades individuais»), na realidade integram-se neste sistema, perpetuando a sua ideologia e estrutura centralizada. São, portanto, enquadráveis naquilo que Illich afirmava ser uma perda ou adulteração da linguagem da comunidade, com o seu papel de veículos de transmissão em massa de mensagens disseminadas por estruturas centralizadas -mesmo no caso dos novos suportes, supostamente mais "descentralizados", trata-se somente de moldar a rede de distribuição, e não a direcção dos fluxos. Chegados à actual condição de massificação, a questão da sobrevivência da espécie e da biodiversidade assume outro tipo de relevância, dada a dependência da primeira e, em certa medida, da segunda, da estrutura tecnológica instalada, integrados no que Thomas P. Hughes designa como sistemas ecotecnológicos. De acordo com os autores citados, apenas pela reconstrução dos princípios sobre os quais assenta a estrutura tecnológica é possível alcançar um grau aceitável de sustentabilidade da sociedade. A sobre-valorização do aumento da produção e a dimensão global do sistema económico impede a limitação do crescimento, conduzindo ao esgotamento. Colocando ênfase no conceito de convivialidade (Illich) e na construção de uma sociedade sustentável, procura-se entender o que tal experiência implicaria para a estrutura tecnológica dominante. Neste ponto, é de grande importância a análise da maior dificuldade das propostas dos autores referidos, que consiste na impossibilidade de transição gradual; Illich defende que a passagem do industrial para o convivial é inelutável, mas violenta, sob a forma de uma crise de proporções catastróficas. Convivialidade, TIC, tecnologias emergentes, linguagem, comunidade 1454 Convivialidade e tecnologia na sociedade da comunicação 5º SOPCOM -Comunicação e Cidadania [Contemporary man] attempts to create the world in his image, to build a totally man-made environment, and then discovers that he can do so only on the condition of constantly remaking himself to fit it. We now must face the fact that man himself is at stake. Ivan Illich, Deschooling Society