Abstract
Este texto discute a produção radiofônica ficcional brasileira dos anos 1950 a partir da perspectiva da politização, do engajamento e das preocupações estéticas expressos em trabalhos desenvolvidos por Túlio de Lemos, Dias Gomes e Osvaldo Molles. Além de oferecer uma visão do trabalho desses realizadores, o texto visa contextualizar as suas obras tanto em relação ao cenário radiofônico do período como diante do contexto mais geral da produção simbólica nacional. Além disso, é oferecida uma reflexão sobre a relação entre os trabalhos desses autores e as preocupações então expressas pelo Partido Comunista Brasileiro, criado em 1922, em relação à área de cultura.
References (26)
- Casa Grande, diz, encerrando o programa: Me arrependi -por demais da conta -de tê levado uma vida tão boa, enquanto o meu povo sofria tanto. Agora não gosto mais do senhor. Só gosto dele, que é meu marido. Eu vô com ele pro mato. (GUERRINI Jr., 2013, p. 134)
- Em outro programa da série, a adaptação de La Bohème (Giacomo Puccini, 1896), que mereceu uma análise mais aprofundada de Guerrini Jr., a ação se passa em um estúdio na Av. São João, no centro de São Paulo, onde moram quatro jovens de poucos recursos. Já no diálogo inicial, Colline, o filósofo do grupo, questiona Rodolfo, o pintor, por estar fazendo o retrato de uma cadela de estimação para a sua rica proprietária: Colline: Parece-me que você pertence à tal escola do realismo social, não é? Rodolfo: Perfeitamente, Colline. Colline: Há uma grande contradição entre o que você faz e o que você pensa. Rodolfo: Me diga uma coisa, Colline. Colline: O que é que há? Rodolfo: Nós não precisamos comer? Colline: Infelizmente. Rodolfo: Não precisamos pagar o aluguel deste estúdio que fica em plena Avenida São João? Colline: Sim. Rodolfo: Logo, precisamos arranjar dinheiro em qualquer parte, de qualquer maneira, até pintando cachorrinhas de estimação. Não é possível praticar o socialismo integral dentro da sociedade capitalista. (GUERRINI Jr., 2013, p. 137)
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