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Química e Sociedade

Abstract

A seção "Química e sociedade" apresenta artigos que focalizam diferentes inter-relações entre Ciência e sociedade, procurando analisar o potencial e as limitações da Ciência na tentativa de compreender e solucionar problemas sociais. Recebido em 03/11/ O presente trabalho busca explorar o universo dos odores como uma forma de oferecer aos professores de ciências uma nova maneira de contextualizar alguns temas da química, explorando, para isso, o sistema olfativo. Culturalmente, associamos o mau cheiro a situações que nos alertam perigo ou a fenômenos que exigem grande cautela. Geralmente essas sensações de estresse psicológico fazem com que o nosso cérebro memorize o odor que está associado a tais situações. Ao relembrar do odor, lembramo-nos do momento vivido e procuramos evitá-lo novamente. É exatamente esse processo de significância que o odor atribui a um momento de estresse ou perigo que o artigo explora que auxiliará na abordagem de conteúdos de ciências. Por meio do olfato, espera-se desenvolver melhor o campo dos modelos mentais pela sensação que o odor é capaz de provocar, desmistificando a ideia de que os experimentos visuais são o tipo que mais apresentam significância aos experimentos de ciências. mau cheiro, sistema olfativo, ensino de química Algo Aqui Não Cheira Bem... A Química do Mau Cheiro O professor em sala de aula comunica aos seus alunos: "Bom dia pessoal! Hoje va-mos fazer um experimento para evidenciarmos a ocorrência de uma reação química". No fundo da sala, surge a seguinte pergunta: "Profes-sor, isso aí vai EXPLODIR?". O aluno, esperando esperançoso, ouve a res-posta pragmática do professor: "Não, experiências com explosões são muito perigosas de serem feitas em sala de aula". Toda a esperança do aluno desaparece, voltando à sua aula mo-nótona em que mais um experimento sem nenhuma nova dinâmica lhe será apresentado e considerando-se ainda a mistificação em torno da química como ciência da "explosão". Quantas vezes, nós, professores de química, nos deparamos com essa pergunta em sala de aula, sem-pre feita com um ar de esperança pelo aluno? Podemos explicar esse fascínio das reações explosivas pe-los alunos, pois são evidências de reações que são facilmente visíveis a olho nu, de caracterização exclusi-vamente imediata. Isso acontece por termos uma [...] tradição ocidental, na qual os sentidos constituem a dimensão "fisiológica" da percepção. Só podemos co-nhecer, afirma-se, por meio do corpo e dos sentidos: visão, audição, olfato, tato e paladar. (Santos-Granero, 2006, p. 97) Mesmo atribuindo uma importân-cia significativa à percepção fisio-lógica, conferimos a cada um dos sentidos certa hierarquização. Dessa forma, por fazermos parte de uma sociedade letrada, atribuímos maior significância à visão. Ainda segundo Santos-Granero (2006): Trata-se de uma confirma-ção da proposição de que, enquanto sociedades letradas privilegiam a visão e aquilo que se dá a ver, sociedades orais tendem a favorecer a audição e aquilo que se dá a ouvir. Em-bora essa assertiva tenha sido recentemente contestada, não há dúvida de que povos não letrados, em muitos casos, consideram sentidos outros que não a visão como os mais importantes meios de aquisi-ção de conhecimento. (p. 99)

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