Papers by Bruno Sena Martins

Fractal, Apr 1, 2009
Quando falamos em subjectividade corpórea estamos a ser complacentes com uma óbvia redundância, a... more Quando falamos em subjectividade corpórea estamos a ser complacentes com uma óbvia redundância, afi nal toda a subjectividade se imbrica numa vivência corpórea que é condição da existência. Não há, portanto, subjectividade não corpórea, não há subjectividade fora da experiência incorporada. No entanto, apesar disso, permanece importante falarmos em subjectividade corpórea, seja para confrontar determinado dualismo cartesiano que desincorpora o sujeito de conhecimento, seja para denunciar a insustentabilidade de determinado construtivismo que, ao procurar elidir o peso moderno de ideologias essencialistas de biologia-como-destino, negligenciou, muitas vezes ao limite, dimensões de existência em que o corpo vivido recolhe insolúvel centralidade. A partir de um longo trabalho etnográfi co realizado junto de pessoas cegas no contexto português, procurarei explorar como a experiência incorporada da cegueira surge representada, enquanto vivência e enquanto projecção. Dessa forma, intento uma perspectiva em que as representações culturais hegemónicas sobre a cegueira são pensadas desde o "corpo-sujeito" ("corps-sujet") formulado por Maurice Merleau-Ponty.
Revisiting the Bhopal Disaster
Routledge eBooks, May 1, 2021
Este trabalho é financiado por Fundos FEDER através do Programa Operacional Factores de Competiti... more Este trabalho é financiado por Fundos FEDER através do Programa Operacional Factores de Competitividade -COMPETE e por Fundos Nacionais através da FCT -Fundação para a e a Tecnologia no âmbito do projeto UIDB/50012/2020. Os dados e as opiniões inseridos na presente publicação são da exclusiva responsabilidade dos/das seus/suas autores/autoras.
Revista andaluza de antropología, 2016

Antropologia portuguesa, 2006
A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitali... more A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis, UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em . Conforme exposto nos referidos Termos e Condições de Uso, o descarregamento de títulos de acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s) documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença. Ao utilizador é apenas permitido o descarregamento para uso pessoal, pelo que o emprego do(s) título(s) descarregado(s) para outro fim, designadamente comercial, carece de autorização do respetivo autor ou editor da obra. Na medida em que todas as obras da UC Digitalis se encontram protegidas pelo Código do Direito de Autor e Direitos Conexos e demais legislação aplicável, toda a cópia, parcial ou total, deste documento, nos casos em que é legalmente admitida, deverá conter ou fazer-se acompanhar por este aviso.

Configurações, Dec 1, 2013
O presente texto estabelece-se numa relação comparativa com a análise etnográfica, anteriormente ... more O presente texto estabelece-se numa relação comparativa com a análise etnográfica, anteriormente realizada, sobre a realidade das pessoas cegas em Portugal; tratou-se de uma análise encetada com o intuito de explorar as relações entre as experiências das pessoas cegas e os valores culturais dominantes através dos quais a cegueira é pensada. A persecução desta relação confrontou-nos com a singular vitalidade da "narrativa da tragédia pessoal" (Oliver, 1990) enquanto gramática de sentido que se apõe às experiências particulares das pessoas cegas. Nestas indagações, em que me demorei noutros momentos (Martins, 2006), interessou-me explorar os significados que a história do Ocidente foi ligando à cegueira e à vida das pessoas cegas. Tanto quanto conhecer os ecos simbólicos e valores sedimentados que permanecem connosco desde a Grécia Antiga, ou desde o mundo hebraico que nos legou a Bíblia, importava perceber de que modo a modernidade ressignificou a cegueira enquanto defi ciência visual, à luz da biomedicina moderna. Se o advento do sistema Braille exprime aquilo que foi promessa moderna à cegueira -uma promessa de emancipação social -, a invenção da deficiência coloca-nos perante uma reinvenção da exclusão social. Ou seja, a modernidade ocidental, naturalizando a inferioridade no corpo individual, feito patológico, reinventa a cegueira através de conceções que perpetuam uma longa história de desqualificação simbólica que nos segue há tanto tempo quanto a tragédia de Édipo. Partindo desse trabalho prévio, a exploração empírica do contexto moçambicano que aqui nos ocupará definiu-se, fundamentalmente, com o objetivo de aceder a contextos da cegueira que prometessem ser desafiadores da historicidade que define o percurso dos A cegueira em Moçambique: a sul de um sentido Configurações, 12 | 2013
Quem define as memórias que cabem na Europa
Memoirs Newsletter, Oct 3, 2020
Uma reflexão sobre o lugar das ancestralidades, das memórias e das identidades nas políticas cont... more Uma reflexão sobre o lugar das ancestralidades, das memórias e das identidades nas políticas contemporâneas parece tornar-se imperiosa quando assistimos ao modo hábil como a extrema-direita vem alavancando o seu crescimento na fácil caricatura das políticas identitárias, tidas como ameaçadoras de vetustos costumes, apologistas do politicamente correcto ou avessas à liberdade de expressão. Este crescimento da extrema-direita tem parasitado o modo como a acumulação neoliberal cria, em significativas parcelas da população, um cenário de expectativas socioeconómicas minguantes.
De Amílcar Cabral ao Bairro da Jamaica
O Coronavírus e as memórias do fim do mundo
Num texto em que Manuel António Pina se detém nos sinuosos caminhos da memória, repreende o espel... more Num texto em que Manuel António Pina se detém nos sinuosos caminhos da memória, repreende o espelho: "Deveria lembrar-me de lembranças minhas, mas lembro-me de lembranças alheias" (Pina:1999). Estamos, é certo, fadados a dividir o passado entre as memórias que nos pertencem e Fábrica de Carboneto abandonada, Bhopal | 2014 | Giles Clarke

A presença da Guerra Colonial (1961Colonial ( -1974) ) na memória da democracia portuguesa consti... more A presença da Guerra Colonial (1961Colonial ( -1974) ) na memória da democracia portuguesa constituiu, durante muito tempo, algo próximo daquilo que a Michael Taussig chamou «segredo público», ou seja, «algo que é comummente conhecido, mas que não pode ser articulado» (Taussig, 1999: 6). Embora matizado por uma crescente visibilidade em anos recentes, o lugar residual ou fantasmático a que Guerra Colonial ocupa no senso comum permanece. É exatamente esse pano de fundo que pretendo contrapor às vidas que denunciam a insustentabilidade de um tal segredo. Neste texto, procuro centrar-me no modo como a experiência dos veteranos de guerra, feridos durante o conflito armado, constitui um reduto da memória da violência colonial. Através dessa leitura, fortemente ancorada num saber incorporado da permanência da guerra naqueles que a combateram, procuro contrapor esse «segredo persuasivo» forjado na memória pública às memórias e narrativas por ele subjugadas. A milhares de quilómetros das frentes de combate, quatro décadas após o fim das hostilidades, no âmbito de projetos de investigação 1 realizados numa parceria 1 Este trabalho beneficiou de Fundos FEDER através do Programa Operacional Fatores de Competitividade (COMPETE) e de Fundos Nacionais da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), no âmbito dos projetos GEOMETRIAS DA MEMÓRIA: CONFIGURAÇÕES PÓS-COLONIAIS 306 entre o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e a Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA) e o Centro de Documentação 25 de Abril, coube-me o grato privilégio de privar com as histórias de vida de cerca de quatro dezenas de veteranos, Deficientes das Forças Armadas 2 (DFA), residentes em Portugal. 3 Um pouco por todo o país, recolhi narrativas que nos falam de como as vidas embargadas pela Guerra Colonial e marcadas pela deficiência necessariamente se distanciam de uma normalidade desmemoriada que se instituiu em Portugal. Quando recupero as palavras de Taussig para refletir no que não pode ser articulado sublinho três instâncias, senão de impossibilidade, de provação para as condições de uma enunciação com efetivo sentido social. Em primeiro lugar, quero enfatizar o modo como o silenciamento da memória da Guerra Colonial cria um contexto em que a mera assunção da sua existência pode fazer do testemunho um gesto tão extraordinário como solitário. A isso mesmo se refere Paul Ricoeur quando nos fala de como o espectro da inverosimilhança produz a solidão das testemunhas: «É contra este fundo de suposta confiança de que emerge, tragicamente, a solidão das "testemunhas históricas" cujas experiências extraordinárias dificultam a capacidade de uma comprensão habitual e ordinária» (Ricoeur, 2004: 167). O apagamento da guerra do espaço público produz a irrealidade a que António Lobo Antunes celebremente dá voz em Os Cus de Judas: «[…] começo a pensar que o milhão e quinhentos mil homens que passaram por África não existiram e lhe estou contando uma espécie de romance de mau gosto impossível de acreditar […].» (2004: 69). A solidão das testemunhas, neste caso, resulta do modo como o silenciamento da guerra produz como «extraordinárias» as experiências daqueles cujas biografias ficaram marcadas pela guerra.
Guiné-Bissau: Da Memória ao Futuro
Cortejando talvez o secreto desejo de nos acreditarmos cuidados por forças benfazejas, além dos m... more Cortejando talvez o secreto desejo de nos acreditarmos cuidados por forças benfazejas, além dos mundanos sortilégios e dos quereres que nos decidem as fortunas de cada dia, lemos frequentemente generosas coincidências em encadeamentos que logo se explicam afinal tão prosaicos. Foi precisamente a enganosa bênção de uma dessas coincidências que senti quando, caminhando por Londres, entrei na galeria Autograph (Rivington Place), onde me pude passear pela exposição LIBERTY / DIASPORA, de Omar Victor Diop.
As “guerras das estátuas” e a cor da memória
Revista Andaluza de Antropología, 2016
En este texto, se piensa la antropología desde una perspectiva que remite ampliamente al ámbito d... more En este texto, se piensa la antropología desde una perspectiva que remite ampliamente al ámbito de la crítica postcolonial de la modernidad. Además de reconocer las asimetrías que dividieron el Norte del Sur a través de los procesos coloniales, y sobre los cuales la antropología se ha consolidado como disciplina, se trata de cuestionar cómo ese legado hoy establece desafíos para que la antropología pueda constituirse como parte de una gramática de resistencia. En este sentido, las "líneas abismales de la modernidad" (Santos, 2009) son convocadas tanto para pensar el impacto de la desmemoria colonial en los procesos sociales y políticos, como para imaginar el lugar de una antropología capaz de movilizar esa memoria a las luchas del presente.
Fractal : Revista de Psicologia, 2015
Resumo O conceito de deficiência tem sido profundamente contestado nas últimas décadas, tanto pol... more Resumo O conceito de deficiência tem sido profundamente contestado nas últimas décadas, tanto política como epistemologicamente. Por um lado, está em causa o reconhecimento de que a filiação de determinadas diferenças sob a noção de deficiência constitui uma recente “invenção” da modernidade ocidental. Por outro, trata-se de pulsar as consequências dessa construção para as pessoas marcadas pelo estigma da deficiência. Estabelecendo um diálogo com importantes contribuições da teoria crítica, recrutando noções como “páticas de separação” (Michel Foucault), “materialização” (Judith Butler), “corpo múltiplo” (Annemarie Mol) e “sociologia das ausências” (Boaventura de Santos), o presente artigo procura entender como a noção de deficiência pode ser desmobilizada por leituras insurgentes das hierarquias da modernidade.

Fractal : Revista de Psicologia, 2009
Quando falamos em subjectividade corpórea estamos a ser complacentes com uma óbvia redundância, a... more Quando falamos em subjectividade corpórea estamos a ser complacentes com uma óbvia redundância, afi nal toda a subjectividade se imbrica numa vivência corpórea que é condição da existência. Não há, portanto, subjectividade não corpórea, não há subjectividade fora da experiência incorporada. No entanto, apesar disso, permanece importante falarmos em subjectividade corpórea, seja para confrontar determinado dualismo cartesiano que desincorpora o sujeito de conhecimento, seja para denunciar a insustentabilidade de determinado construtivismo que, ao procurar elidir o peso moderno de ideologias essencialistas de biologia-como-destino, negligenciou, muitas vezes ao limite, dimensões de existência em que o corpo vivido recolhe insolúvel centralidade. A partir de um longo trabalho etnográfi co realizado junto de pessoas cegas no contexto português, procurarei explorar como a experiência incorporada da cegueira surge representada, enquanto vivência e enquanto projecção. Dessa forma, intento uma perspectiva em que as representações culturais hegemónicas sobre a cegueira são pensadas desde o "corpo-sujeito" ("corps-sujet") formulado por Maurice Merleau-Ponty.

Configurações, 2013
O presente texto estabelece-se numa relação comparativa com a análise etnográfica, anteriormente ... more O presente texto estabelece-se numa relação comparativa com a análise etnográfica, anteriormente realizada, sobre a realidade das pessoas cegas em Portugal; tratou-se de uma análise encetada com o intuito de explorar as relações entre as experiências das pessoas cegas e os valores culturais dominantes através dos quais a cegueira é pensada. A persecução desta relação confrontou-nos com a singular vitalidade da "narrativa da tragédia pessoal" (Oliver, 1990) enquanto gramática de sentido que se apõe às experiências particulares das pessoas cegas. Nestas indagações, em que me demorei noutros momentos (Martins, 2006), interessou-me explorar os significados que a história do Ocidente foi ligando à cegueira e à vida das pessoas cegas. Tanto quanto conhecer os ecos simbólicos e valores sedimentados que permanecem connosco desde a Grécia Antiga, ou desde o mundo hebraico que nos legou a Bíblia, importava perceber de que modo a modernidade ressignificou a cegueira enquanto defi ciência visual, à luz da biomedicina moderna. Se o advento do sistema Braille exprime aquilo que foi promessa moderna à cegueira -uma promessa de emancipação social -, a invenção da deficiência coloca-nos perante uma reinvenção da exclusão social. Ou seja, a modernidade ocidental, naturalizando a inferioridade no corpo individual, feito patológico, reinventa a cegueira através de conceções que perpetuam uma longa história de desqualificação simbólica que nos segue há tanto tempo quanto a tragédia de Édipo. Partindo desse trabalho prévio, a exploração empírica do contexto moçambicano que aqui nos ocupará definiu-se, fundamentalmente, com o objetivo de aceder a contextos da cegueira que prometessem ser desafiadores da historicidade que define o percurso dos A cegueira em Moçambique: a sul de um sentido Configurações, 12 | 2013

A Guerra Colonial Portuguesa permanece um assunto pouco estudado no que diz respeito às suas impl... more A Guerra Colonial Portuguesa permanece um assunto pouco estudado no que diz respeito às suas implicações sociais e geoestratégicas mais vastas. Esta comunicação pretende trazer à discussão os resultados preliminares de um projeto em curso sobre o Exercício Alcora. Esta aliança secreta, estabelecida entre Portugal, a África do Sul e a Rodésia em 1970, pretendia lutar contra o crescimento de movimentos independentistas africanos, por forma a preservar uma soberania "branca" na África Austral. A Guerra Colonial, para além de constituir um momento fundador da realidade sociopolítica do Portugal contemporâneo, foi crucial para as independências das suas antigas colónias em África, tendo tido, igualmente, sérias repercussões nos longos conflitos que lhe sucederam (as guerras civis). Desta forma, uma compreensão detalhada da Guerra Colonial Portuguesa ganha relevância numa aproximação crítica à construção de memórias nacionais em todos os países envolvidos. É fundamental compreender-se as raízes das crises sociais e políticas atuais nos países africanos que conquistaram a independência, bem como reconhecer como segredos de tal importância alcançaram os dias de hoje imaculados. Explorando linhas de pesquisa sugeridas pelo Exercício Alcora, a Guerra Colonial será vista como parte de um conflito regional -luta contra as independências na África Austral -, e como parte de um conflito global -o que alguns consideram ter sido um subsistema da Guerra Fria na África Austral.
Somos irmãos de armas lutando contra um inimigo comum que tem de ser derrotado. 1
Da guerra colonial às independências africanas | Esquerda 1/15 23/03/2020 Da guerra colonial às i... more Da guerra colonial às independências africanas | Esquerda 1/15 23/03/2020 Da guerra colonial às independências africanas | Esquerda 2/15
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