Papers by Luciano Gomes

KÜHN, Fábio; SCOTT, Ana Silvia. Porto Alegre 250 Anos: de uma vila escravista a uma cidade de imigrantes (séc. XVIII e XIX). São Leopoldo: Oikos, 2022., 2022
O tema deste artigo é a escravidão, em relação à qual desejamos responder duas questões: qual a i... more O tema deste artigo é a escravidão, em relação à qual desejamos responder duas questões: qual a importância da escravidão na formação da freguesia de Porto Alegre? Como africanas, africanos e descendentes se relacionaram com a escravidão, fossem eles livres, libertos ou escravizados? Em nosso entendimento, a multiplicidade de experiências de africanos e descendentes em Porto Alegre pode ser melhor analisada ao correlacionarmos três conjuntos de relações sociais: a sociedade estamental, a escravidão e a comunidade de matriz africana. O texto é dividido em cinco etapas. Na primeira, abordaremos os conjuntos de relações sociais nos quais mulheres e homens africanos e seus descendentes se envolveram. Na segunda, analisaremos a dimensão da população negra. Na terceira, abordaremos alguns aspectos da formação da escravidão na localidade. Na quarta, trataremos das condições de ascensão social por
parte de pardos e pretos libertos e livres. Por fim, abordaremos a formação de
comunidades de matriz africana.
Revista Tempos Históricos, 2024
A pesquisa aborda processos de empobrecimento por parte de famílias oriundas de segmentos sociais... more A pesquisa aborda processos de empobrecimento por parte de famílias oriundas de segmentos sociais intermediários no sul da América portuguesa. A documentação é composta por registros de óbitos, róis de confessados e alguns requerimentos à Fazenda Real. A metodologia empregada é a procura nominal em diferentes documentos, a partir da qual foi possível identificar se os pobres possuíam cativos. A hipótese é a de que um delimitado conjunto de famílias pobres de Porto Alegre se originava dos segmentos sociais intermediários, os quais dispunham de propriedades, como a posse de pessoas escravizadas. Apesar disso, essas famílias também enfrentaram algum nível de carência material. Este trabalho deseja oferecer uma contribuição aos estudos das experiências de livres não pertencentes às elites luso-americanas.
Tempo, 2023
A pesquisa aborda as práticas de agregar e estar agregado e o registro dessas condições nos docum... more A pesquisa aborda as práticas de agregar e estar agregado e o registro dessas condições nos documentos do Brasil escravista. A documentação analisada compõe-se de dicionários e arrolamentos populacionais. A partir da crítica historiográfica e da leitura de dicionários, elaboramos uma definição das práticas de agregar e agregar-se. A partir da metodologia do cruzamento nominal e da reconstituição de famílias, identificamos a família extensa de alguns agregados e conseguimos analisar as diferenças no seio desta categoria. A hipótese defendida é a de que agregar era uma prática difusa e que o agregado não constituía um grupo ou uma camada social específicos. Além disso, os objetivos dos responsáveis pela produção dos documentos precisam ser considerados como elementos relevantes para entender como o termo “agregado” foi utilizado quando da elaboração dos registros.
Métis: história & cultura, 2020
A pesquisa aborda os temas do acesso ao uso da terra e da formação de comunidades negras durante ... more A pesquisa aborda os temas do acesso ao uso da terra e da formação de comunidades negras durante o período escravagista. A população-alvo desta pesquisa são africanos e seus descendentes, forros ou cativos, que viviam em Porto Alegre, em fins do século XVIII. A documentação consiste em registros de batismo, inventários post-mortem e róis de confessados. A metodologia empregada é da pesquisa nominal em diferentes documentos e a identificação de indivíduos e seus vínculos sociais. A hipótese defendida é a de que a incorporação de trabalhadores libertos, na lavoura do trigo, oportunizou a aproximação entre africanos libertos e cativos. Tal fato permitiu a constituição de uma comunidade africana caracterizada por relativa abertura social.

A família escrava é um dos temas mais recorrentes no estudo da escravidão, atualmente. Autores co... more A família escrava é um dos temas mais recorrentes no estudo da escravidão, atualmente. Autores como Stuart Schwartz, Robert Slenes, Iraci del Nero da Costa, Francisco Vidal Luna, Manolo Florentino e Roberto Góes demonstraram a extensão dessa instituição no Brasil escravista e as particularidades de sua formação nos mais diferentes contextos. Um momento importante na formação das famílias e que permitia a ampliação dos laços parentais era o batismo, quando se escolhiam padrinhos para as crianças cativas, que poderiam ser pessoas livres, forros ou, mesmo, escravos. Neste artigo, abordaremos o apadrinhamento e o compadrio em Porto Alegre, entre 1772 e 1800. Analisaremos, particularmente, as ligações entre escravarias resultantes da escolha de cativos como padrinhos/madrinhas e compadres/comadres de outros escravos. Nosso interesse é o de apreender algumas tendências gerais pertinentes ao processo de vinculação dos escravos entre si por meio da criação do laço espiritual e lançar algumas hipóteses sobre alguns dos elementos presentes no ato de escolha dos padrinhos.

O artigo aborda a história da população de Santa Catarina entre 1787 e 1836. A documentação é
com... more O artigo aborda a história da população de Santa Catarina entre 1787 e 1836. A documentação é
composta por 12 “mapas” de população. Por meio do uso de instrumentos próprios da demografa
histórica, analisam-se as características e transformações da estrutura populacional e econô-
mica da região. A população estudada cresceu, mas com períodos de signifcativa oscilação.
Livres, libertos e escravos apresentavam tendências demográfcas diferentes, como o contínuo
domínio de mulheres entre livres e libertos e elevadíssima presença de homens entre os cativos.
Verifcou-se um quadro econômico caracterizado por amplo domínio das atividades agrárias.
Os distritos e freguesias com maior proporção de fábricas de farinha e engenhocas de açúcar
apresentavam as maiores participações de escravos. Já as localidades com menos engenhos
registravam as menores participações de escravos. Constata-se, portanto, a constituição de
uma estrutura populacional resultante da concorrência e associação entre o campesinato e a
escravidão. Neste quadro, os pequenos agricultores com escravos eram comuns.

Resumo: Este artigo tem por objetivo apresentar um modelo de interpretação do papel da escravidão... more Resumo: Este artigo tem por objetivo apresentar um modelo de interpretação do papel da escravidão nas atividades agrárias no Rio Grande do Sul, nas duas últimas décadas do século XVIII. As fontes pesquisadas são os mapas de habitantes de 1780, 1798 e 1802. Verificamos o aumento da participação dos escravos nas freguesias dedicadas à agricultura, que chegou a patamares semelhantes aos do Sul de Minas Gerais, reconhecida como uma área de produção de alimentos escravista. Ao considerar a extensão da presença cativa no Rio Grande, defendemos que a escravidão se tornou um dos pilares do sistema de trabalho na agricultura. Palavras-chaves: escravidão. Agricultura. Rio Grande do Sul. Abstract: Slavery and agriculture in the Rio Grande de São Pedro, colonial age: suggestion of an interpretation model. This paper aims to show an interpretation model by the role of slavery in the agrarian activities in Rio Grande do Sul, during the last two decades of the eighteenth century. The sources consulted were mapas de habitantes. It was verified the slavery participation in agrarian parishes, it arrived to the same level that was found in South of Minas Gerais, recognized as a slavery food production area. Considering the extention of captive presence in Rio Grande, it was defended that the slavery became the base on the agricultural work system.

RESUMO: Este artigo tem por objetivo analisar a estrutura agrária de Porto Alegre nas três última... more RESUMO: Este artigo tem por objetivo analisar a estrutura agrária de Porto Alegre nas três últimas décadas do século XVIII, bem como apreender alguns dos mecanismos de reprodução social então recorrentes. As principais fontes pesquisadas foram róis de confessados e a Relação de Moradores. O trabalho se dividiu em duas etapas. A primeira foi a elaboração de um estudo estrutural, baseado na avaliação dos dados agregados relativos à propriedade de terra e escravos. A segunda, a pesquisa nominal dos agentes sociais envolvidos, a partir da qual foram reconstituídas algumas famílias locais, bem como traçadas suas redes de relações. Verificou-se que havia uma significativa concentração de terras e uma distribuição de escravos semelhante a de outras regiões com economia voltada para o mercado interno. Ao se avaliar os padrões de casamento e de estratégias de formação de novos lares, constataram-se diferenças entre as famílias mais afortunadas e aquelas com menores recursos. As reflexões e conclusões deste trabalho tentam oferecer alguma contribuição ao estudo das estratégias sociais dos grupos subalternos da América meridional portuguesa. Palavras-chave: estrutura agrária; estratégias familiares; escravidão.
ABSTRACT. Agrarian structure, family relationships and social reproduction in Porto Alegre: 1769 – 1797. This article has as its objective the analysis of the agrarian structure in Porto Alegre during the last three decades of the eighteenth century, as well as to apprehend some of the recurrent social reproduction mechanisms. The main sources researched were the Confession and the Residents' Lists. The work has been divided into two parts. The first one was the elaboration of a structural study, based on the evaluation of aggregate data relating to the ownership of land and slaves. The second, the nominal research of the social agents involved, from which some of the local families were reconstructed, as well as their relationship networks. It was then verified that there was a significant land ownership concentration and a distribution of slaves similar to other regions with an internal market based economy. By analyzing marriage patterns and the development of new homes, differences were identified among the most and the least fortunate families. The considerations and conclusions of this paper present a humble contribution to the study of the social strategies of the subaltern groups from Portuguese South America.

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo elaborar um quadro analítico sobre as formas de aces... more Resumo: O presente trabalho tem por objetivo elaborar um quadro analítico sobre as formas de acesso à terra disponíveis à população negra durante o período escravista no Rio Grande do Sul. A metodologia empregada é a da discussão bibliográfica, comparando-se descobertas relativas ao nordeste e sudeste do Brasil com as relativas ao Rio Grande do Sul. Distinguem-se os meios formais e informais de acesso à terra e salienta-se a importância das relações sociais no processo de constituição de famílias e comunidades negras produtoras e autônomas. Deseja-se, enfim, elaborar uma reflexão que contribua para o estudo da escravidão e dos sistemas agrários no Brasil. Palavras-chave: Acesso à terra. Escravidão e liberdade. História rural.
Abstract: This paper aims to develop a framework on tactics of access to land by black people at the slavery time in Rio Grande do Sul. The methodology employed is the bibliographic discussion. There was both formal and informal ways to get access to land and it stands out the importance of social relationships in the process of constitution of producers and autonomous black families and communities. This work hopes to increase the understanding about the slavery time and the agrarian system in Brazil. Introdução Havia indivíduos e famílias negras residentes no Rio Grande do Sul, durante o período escravista, que conseguiram manter-se de maneira relativamente autônoma graças ao acesso ao uso ou à propriedade da terra 1. Neste artigo, por meio de análise bibliográfica baseada em trabalhos 1 Por " acesso ao uso da terra " entendemos a utilização produtiva do solo sem necessário reconhecimento jurídico de propriedade. O acesso ao uso da terra poderia se dar por meio da prática de agregar-se junto a um proprietário, pelo arrendamento ou pela ocupação de terras devolutas. A ocupação feita de boa-fé, que fosse produtiva e antiga poderia garantir o direito de posse da terra, uma garantia jurídica. O arrendamento baseava-se em um contrato, o que implicava em direitos e deveres entre arrendatário e arrendador. O agregado ou inquilino, em princípio, não teria direito algum e o acesso à terra poderia ser dado e retirado conforme a vontade do proprietário de terras. No entanto, era frequente o reconhecimento de posse benfeitorias por parte daqueles que a construíam. Por " acesso à propriedade " referimo-nos ao domínio direito de uma extensão territorial, social e juridicamente reconhecido.

GOMES, Luciano Costa ; ALMEIDA, Cybele Crossetti de . Poesia e História em defesa de um ideal: um... more GOMES, Luciano Costa ; ALMEIDA, Cybele Crossetti de . Poesia e História em defesa de um ideal: uma análise do Ditié de Jehanne d Arc de Christine de Pisan. In: PEREIRA, N. M., ALMEIDA, C. C., TEIXEIRA, I. S.. (Org.). REFLEXÕES SOBRE O MEDIEVO. São Leopoldo: Oikos, 2009, p. 247-269. ISBN 9788578430870.
A França do século XV vivia ainda o conflito contra a Inglaterra iniciado em 1337, a Guerra dos Cem Anos. Nesse período viveu Christine de Pisan (1365-1430), primeira mulher na França a desenvolver um saber erudito, fundando a linhagem das mulheres sábias e escritoras (JULEVILLE, 1896, p. 357). Christine presenciou o constante enfraquecimento das forças da dinastia Valois, representada pelo rei Carlos VI, agravado com a derrota francesa em Azincourt, no ano de 1415. Após a invasão de Paris pelos borguinhões, a escritora, fiel à linhagem dos Valois, foge da cidade e vai para um mosteiro, no qual permaneceu os últimos doze anos de sua vida. Contrária ao crescente domínio inglês, defendia o direito à sucessão do delfim Carlos, deserdado pelo Tratado de Troyes de 1420. A preocupação de Christine de Pisan com os rumos da guerra já havia sido expressa na “Lamentation sur les maux de la guerre civile” de 1410, bem como no seu “Livre de la paix”, escrito entre os anos 1412 e 1414, que demonstram a desolação da autora com a Guerra dos Cem Anos . Mas ao tomar conhecimento, no ano de 1429, da retomada de Orléans – sitiada pelos ingleses - e da entronização do delfim, ambos feitos notáveis atribuídos à Joana d’Arc, a escritora recupera as esperanças e compõe o “Ditié de Jehanne d’Arc”, no qual glorifica Joana e saúda o novo rei, Carlos VII. Tema bastante controverso na época, Christine demonstra bastante convicção quanto à legitimidade da ação política da “Donzela de Orléans”, sobretudo por tal legitimidade confirmar tanto a realeza sangüínea de Carlos quanto a tese defendida pela escritora da igualdade entre os gêneros masculino e feminino.
Neste artigo, serão discutidos quatro aspectos importantes que perpassam na escrita da obra: a insistência na legitimidade da ação de Joana d’Arc, o desenvolvimento do nacionalismo na França tardo-medieval, a defesa da igualdade entre os gêneros e, por fim, uma abordagem quanto ao possível impacto social com a difusão do texto. O trabalho aqui desenvolvido faz parte do projeto de pesquisa “Imagens da Joana d’Arc: História, Cinema e Literatura”.

A presente pesquisa aborda a dinâmica das estruturas demográfica, social e econômica de Porto Ale... more A presente pesquisa aborda a dinâmica das estruturas demográfica, social e econômica de Porto Alegre, capital do Rio Grande de São Pedro, em seu período formativo (entre 1772 e 1800). As principais fontes consultadas foram róis de confessados, relações de moradores, mapas de população e produção e livros de casamento e de batismo. Nos três primeiros capítulos da dissertação são analisadas as características da população e suas modificações, as diferenças entre a área urbana e rural e a distribuição da posse de escravos. No quarto e no quinto capítulo são estudas a estrutura agrária local e as redes familiares e estratégias dos produtores rurais. Os dois últimos capítulos, por fim, abordam a família e o compadrio escravo. O argumento central aqui defendido é o de que Porto Alegre, já em suas primeiras décadas de existência, demonstrava forte dependência em relação ao escravismo. A freguesia conheceu um expressivo crescimento demográfico decorrente, em grande medida, do aumento do número de cativos. Seu núcleo urbanizado mostrava-se, desde então, bastante desenvolvido, concentrando a maior parte da população, inclusive escrava. Os cativos eram muitos e estavam distribuídos em pequenas propriedades. A fronteira agrária encontrava-se fechada e há fortes indícios apontando para um processo de diferenciação social entre os produtores rurais. Ao avaliar as condições nas quais surgiram as famílias escravas, constatou-se que a atividade produtiva do senhor, o tamanho da posse escrava e a origem dos cativos aparecem como importantes fatores a serem considerados. A escolha de padrinhos, por sua vez, conheceu uma profunda transformação ao logo do período, em um processo no qual incidiram as mudanças na estrutura de posse de escravos, as variações na dinâmica do tráfico, bem como os limites e possibilidades impostos pelas redes sociais senhoriais. A economia e a sociedade de Porto Alegre, em suas primeiras décadas de existência, podem, sim, ser classificadas como escravistas.
Books by Luciano Gomes
No Brasil, a década de 1970 viu um aumento sensível nas pesquisas com enfoque em tais temas, espe... more No Brasil, a década de 1970 viu um aumento sensível nas pesquisas com enfoque em tais temas, especialmente a partir dos estudos de demografia histórica, que trouxeram vieses interpretativos distintos dos até então majoritários, descendentes da noção de família patriarcal tal como pensada por Freyre (1933).
Dissertação e tese by Luciano Gomes

Porto Alegre e Viamão, em fins do século XVIII, eram formadas por um amplo espaço rural ocupado p... more Porto Alegre e Viamão, em fins do século XVIII, eram formadas por um amplo espaço rural ocupado por uma maioria de pequenos e médios produtores envolvidos com a produção de trigo, classificados como lavradores. Indivíduos escravizados faziam-se presentes na maioria
das unidades produtivas. Comerciantes, funcionários reais, famílias não possuidoras nem de terras nem parentes proprietários fundiários, pretos e pardos libertos, militares, padres, bem como grandes proprietários fundiários, dentre outros, fazem-se, igualmente, presentes. O objetivo desta pesquisa é tentar entender como esses indivíduos e famílias, tão diferentes entre si, organizavam-se por meio de vínculos parentais, relações de comércio, compadrio, acordos de trabalho, agregação e laços de clientela. Quando possível, queremos saber quando e por qual motivo entravam em conflito. A documentação base desta pesquisa são os róis de confessados, as Relações de moradores de Porto Alegre e Viamão e os livros de batismos. Foram utilizados uma série de outros documentos, de forma paralela. A metodologia mais importante empregada é a da identificação nominal dos indivíduos e famílias. Há cinco hipóteses a serem defendidas nesta tese. O sistema de mão-de-obra da região pode ser qualificado como camponês e pequeno escravista, algo semelhante ao modelo do “Sul de Minas”. Havia duas fortes tendências de vinculação clientelista na região, pois lavradores mais ricos proximaram-se dos comerciantes, enquanto os mais pobres deles tendiam a procurar grandes estancieiros. As famílias extensas de pequenos e médios produtores, em virtude da limitação patrimonial dos pais, bem como da crescente autonomia dos filhos crescidos, tendia a apresentar uma organização não centralizada, de modo que os núcleos
domésticos se articulavam com apenas alguns de seus parentes, mas não com todos. Por fim, a multiplicação de vínculos, dos mais variados tipos, em direção a grupos os mais variados na escala social, revelou-se útil ao ampliar o leque de origem de recursos sociais, econômicos, políticos e, por que não, afetivos. Espera-se que esta pesquisa possa favorecer um melhor entendimento sobre a organização social ao sul da América portuguesa.
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parte de pardos e pretos libertos e livres. Por fim, abordaremos a formação de
comunidades de matriz africana.
composta por 12 “mapas” de população. Por meio do uso de instrumentos próprios da demografa
histórica, analisam-se as características e transformações da estrutura populacional e econô-
mica da região. A população estudada cresceu, mas com períodos de signifcativa oscilação.
Livres, libertos e escravos apresentavam tendências demográfcas diferentes, como o contínuo
domínio de mulheres entre livres e libertos e elevadíssima presença de homens entre os cativos.
Verifcou-se um quadro econômico caracterizado por amplo domínio das atividades agrárias.
Os distritos e freguesias com maior proporção de fábricas de farinha e engenhocas de açúcar
apresentavam as maiores participações de escravos. Já as localidades com menos engenhos
registravam as menores participações de escravos. Constata-se, portanto, a constituição de
uma estrutura populacional resultante da concorrência e associação entre o campesinato e a
escravidão. Neste quadro, os pequenos agricultores com escravos eram comuns.
ABSTRACT. Agrarian structure, family relationships and social reproduction in Porto Alegre: 1769 – 1797. This article has as its objective the analysis of the agrarian structure in Porto Alegre during the last three decades of the eighteenth century, as well as to apprehend some of the recurrent social reproduction mechanisms. The main sources researched were the Confession and the Residents' Lists. The work has been divided into two parts. The first one was the elaboration of a structural study, based on the evaluation of aggregate data relating to the ownership of land and slaves. The second, the nominal research of the social agents involved, from which some of the local families were reconstructed, as well as their relationship networks. It was then verified that there was a significant land ownership concentration and a distribution of slaves similar to other regions with an internal market based economy. By analyzing marriage patterns and the development of new homes, differences were identified among the most and the least fortunate families. The considerations and conclusions of this paper present a humble contribution to the study of the social strategies of the subaltern groups from Portuguese South America.
Abstract: This paper aims to develop a framework on tactics of access to land by black people at the slavery time in Rio Grande do Sul. The methodology employed is the bibliographic discussion. There was both formal and informal ways to get access to land and it stands out the importance of social relationships in the process of constitution of producers and autonomous black families and communities. This work hopes to increase the understanding about the slavery time and the agrarian system in Brazil. Introdução Havia indivíduos e famílias negras residentes no Rio Grande do Sul, durante o período escravista, que conseguiram manter-se de maneira relativamente autônoma graças ao acesso ao uso ou à propriedade da terra 1. Neste artigo, por meio de análise bibliográfica baseada em trabalhos 1 Por " acesso ao uso da terra " entendemos a utilização produtiva do solo sem necessário reconhecimento jurídico de propriedade. O acesso ao uso da terra poderia se dar por meio da prática de agregar-se junto a um proprietário, pelo arrendamento ou pela ocupação de terras devolutas. A ocupação feita de boa-fé, que fosse produtiva e antiga poderia garantir o direito de posse da terra, uma garantia jurídica. O arrendamento baseava-se em um contrato, o que implicava em direitos e deveres entre arrendatário e arrendador. O agregado ou inquilino, em princípio, não teria direito algum e o acesso à terra poderia ser dado e retirado conforme a vontade do proprietário de terras. No entanto, era frequente o reconhecimento de posse benfeitorias por parte daqueles que a construíam. Por " acesso à propriedade " referimo-nos ao domínio direito de uma extensão territorial, social e juridicamente reconhecido.
A França do século XV vivia ainda o conflito contra a Inglaterra iniciado em 1337, a Guerra dos Cem Anos. Nesse período viveu Christine de Pisan (1365-1430), primeira mulher na França a desenvolver um saber erudito, fundando a linhagem das mulheres sábias e escritoras (JULEVILLE, 1896, p. 357). Christine presenciou o constante enfraquecimento das forças da dinastia Valois, representada pelo rei Carlos VI, agravado com a derrota francesa em Azincourt, no ano de 1415. Após a invasão de Paris pelos borguinhões, a escritora, fiel à linhagem dos Valois, foge da cidade e vai para um mosteiro, no qual permaneceu os últimos doze anos de sua vida. Contrária ao crescente domínio inglês, defendia o direito à sucessão do delfim Carlos, deserdado pelo Tratado de Troyes de 1420. A preocupação de Christine de Pisan com os rumos da guerra já havia sido expressa na “Lamentation sur les maux de la guerre civile” de 1410, bem como no seu “Livre de la paix”, escrito entre os anos 1412 e 1414, que demonstram a desolação da autora com a Guerra dos Cem Anos . Mas ao tomar conhecimento, no ano de 1429, da retomada de Orléans – sitiada pelos ingleses - e da entronização do delfim, ambos feitos notáveis atribuídos à Joana d’Arc, a escritora recupera as esperanças e compõe o “Ditié de Jehanne d’Arc”, no qual glorifica Joana e saúda o novo rei, Carlos VII. Tema bastante controverso na época, Christine demonstra bastante convicção quanto à legitimidade da ação política da “Donzela de Orléans”, sobretudo por tal legitimidade confirmar tanto a realeza sangüínea de Carlos quanto a tese defendida pela escritora da igualdade entre os gêneros masculino e feminino.
Neste artigo, serão discutidos quatro aspectos importantes que perpassam na escrita da obra: a insistência na legitimidade da ação de Joana d’Arc, o desenvolvimento do nacionalismo na França tardo-medieval, a defesa da igualdade entre os gêneros e, por fim, uma abordagem quanto ao possível impacto social com a difusão do texto. O trabalho aqui desenvolvido faz parte do projeto de pesquisa “Imagens da Joana d’Arc: História, Cinema e Literatura”.
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Dissertação e tese by Luciano Gomes
das unidades produtivas. Comerciantes, funcionários reais, famílias não possuidoras nem de terras nem parentes proprietários fundiários, pretos e pardos libertos, militares, padres, bem como grandes proprietários fundiários, dentre outros, fazem-se, igualmente, presentes. O objetivo desta pesquisa é tentar entender como esses indivíduos e famílias, tão diferentes entre si, organizavam-se por meio de vínculos parentais, relações de comércio, compadrio, acordos de trabalho, agregação e laços de clientela. Quando possível, queremos saber quando e por qual motivo entravam em conflito. A documentação base desta pesquisa são os róis de confessados, as Relações de moradores de Porto Alegre e Viamão e os livros de batismos. Foram utilizados uma série de outros documentos, de forma paralela. A metodologia mais importante empregada é a da identificação nominal dos indivíduos e famílias. Há cinco hipóteses a serem defendidas nesta tese. O sistema de mão-de-obra da região pode ser qualificado como camponês e pequeno escravista, algo semelhante ao modelo do “Sul de Minas”. Havia duas fortes tendências de vinculação clientelista na região, pois lavradores mais ricos proximaram-se dos comerciantes, enquanto os mais pobres deles tendiam a procurar grandes estancieiros. As famílias extensas de pequenos e médios produtores, em virtude da limitação patrimonial dos pais, bem como da crescente autonomia dos filhos crescidos, tendia a apresentar uma organização não centralizada, de modo que os núcleos
domésticos se articulavam com apenas alguns de seus parentes, mas não com todos. Por fim, a multiplicação de vínculos, dos mais variados tipos, em direção a grupos os mais variados na escala social, revelou-se útil ao ampliar o leque de origem de recursos sociais, econômicos, políticos e, por que não, afetivos. Espera-se que esta pesquisa possa favorecer um melhor entendimento sobre a organização social ao sul da América portuguesa.